15 álbuns: As escolhas de Ricardo Reis Soares

Francisco Pereira

O percurso de Ricardo Reis Soares, que ainda agora está a começar, promete ser o início de uma trajetória madura e intimista. Para o Mente Cultural escolheu 15 álbuns que mais o marcaram até hoje.

Desde muito cedo que a música acompanhou Ricardo Reis Soares: com apenas quatro anos, já tocava num pequeno teclado Casio — mais tarde fez aulas de piano, e acabou por encontrar na guitarra a sua aliada preferida para compor.

A sua música é feita de observação atenta, das pequenas histórias, dos silêncios urbanos, dos instantes de solidão ou desejo. A partir dessa escuta, constrói letras que parecem pedaços de vida, com melancolia e honestidade, e melodias onde o indie/pop se mistura com um subtil sabor de jazz, conferindo ao seu trabalho uma identidade própria que cruza sensibilidade, poesia e introspecção.

Ricardo apresenta o seu primeiro trabalho discográfico, o EP Contra Tempo, gravado com a produção de Miguel Marôco. O EP reúne seis canções originais em português e serve de carta de apresentação musical sendo uma reflexão sobre o tempo, as memórias, o amor e as inquietações do quotidiano. Este percurso promete ser o início de uma trajetória madura e intimista.

Selecionar discos é sempre uma tarefa muito difícil porque foram muitos os que me marcaram profundamente ao longo da minha curta existência. Desafiado para esta tarefa, segue uma custosa seleção sem ordem de preferência:

1. Joni Mitchell

Blue (1971)

Numa lista de discos favoritos não poderia deixar de estar o Blue da Joni Mitchell. Esta tem a voz que eu mais gosto, que me atinge profundamente e de forma inexplicável. Este disco é uma obra de arte de uma artista única. Adoro a sua poesia, as suas canções e a maravilhosa forma como as interpreta.

2. Paul Simon

Still Crazy After All These Years (1975)

Um dos meus discos favoritos de sempre. O Paul Simon inspira-me muito com as suas harmonias e letras incríveis. É um disco fenomenal que estou sempre a visitar e a descobrir novos detalhes.

3. Chico Buarque

Chico (2011)

Chico Buarque é o compositor que me fez querer escrever canções e que me faz continuar a tentar fazê-lo por ser completamente impossível chegar perto da sua perfeição. É para mim o melhor letrista. As suas letras, os seus poemas, os seus livros e a sua música são a maior prova que a beleza existe. Este é um dos seus discos que ouvi muito, mas poderia ter escolhido muitos outros do Chico.

4. Caetano Veloso

Cores, Nomes (1982)

A par do Chico Buarque, Caetano inspira-me sempre muito. A sua voz é maravilhosa e as suas canções são lindas. Penso que na altura que decidi estudar música e que seria mesmo este o caminho que queria seguir, estava a ouvir muitos discos do Caetano e do Chico Buarque, a querer compreender as harmonias das canções e como o faziam no violão. Talvez por causa de ambos continuo a escrever canções e tenha optado por aprofundar conhecimentos em guitarra.

5. Chet Baker

It Could Happen To You: Chet Baker Sings (1958)

Este é um disco que visito muitas vezes com alguma nostalgia. Para mim, o Chet Baker é um dos melhores intérpretes, tanto a cantar como a tocar trompete. Falamos de um músico extraordinário e é uma enorme referência para mim. Uns dos melhores anos da minha vida foram passados na escola do hot clube a estudar jazz e este disco devolve-me a muitos desses momentos. Adoro a interpretação e a linguagem do Chet Baker.

6. Leonard Cohen

Songs of Leonard Cohen (1967)

Este é um dos discos preferidos do meu pai e que ouvíamos em família nas viagens de carro. Desde cedo passou a ser um dos meus discos preferidos também, mesmo antes de conseguir entender a profundidade das palavras e das histórias do Leonard Cohen. Enquanto ia crescendo e vivendo, ia decifrando as suas letras e a gostar cada vez mais da sua música. É sem dúvida um dos meus cantautores favoritos.

7. The Beatles

Revolver (1966)

Beatles é desde sempre a minha banda favorita. Penso que foi a minha mãe quem me mostrou muito cedo um dos seus discos, na altura um best of que ela colocava no carro e fiquei completamente vidrado. Remete-me muito também para os meus tempos de secundário em que acho que não passei um único dia sem os ouvir o que ajudou a que fossem tempos inesquecíveis. Vinte e cinco anos depois esse disco anda comigo no meu carro. Revolver é um dos discos que mais gosto, mas facilmente poderia escolher outro.

8. The Beach Boys

Pet Sounds (1966)

É um disco muito importante para mim e incontornável. Mais tarde vim a descobrir que tinha influenciado muita outra música que já ouvia como por exemplo o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles e fez todo o sentido. Este disco tem tudo. São arranjos maravilhosos do Brian Wilson e canções incríveis. Harmonias vocais que me deixam sempre emocionado.

9. Tom Waits

Closing Time (1973)

Relaciono muito este disco com a fase em que estudava engenharia, apesar de saber que aquilo que mais gostava de fazer e aprender era música. Foi um disco muito importante. Mais não fosse, ao fim do dia quando colocava o disco sentia liberdade e voltava a sonhar. Adoro as canções do Tom Waits.

10. Radiohead

In Rainbows (2007)

Um dos meus discos preferidos desta banda incrível. Ouvi muito Radiohead na minha adolescência e sempre que oiço a voz do Thom Yorke fico nostálgico e comovido. Este álbum tem uma das minhas canções favoritas deles chamada
“Faust Arp”.

11. Fausto

Para Além Das Cordilheiras (1987)

Mergulhei no trabalho do Fausto já em fase adulta, na verdade. Mergulhei e continuo mergulhado na beleza e riqueza das suas canções. É sempre especial ouvir a nossa língua desta forma sublime. Fausto será sempre um dos melhores cantautores portugueses. Gosto muito do Para Além Das Cordilheiras, álbum que contém uma das canções mais importantes e especiais para mim, que também gosto muito de cantar, chamada “Porque Me Olhas Assim”.

12. Sérgio Godinho

Canto Da Boca (1981)

Sérgio Godinho é o verdadeiro arquiteto das palavras. A importância que dá à palavra cantada inspira-me muito e faz-me querer levá-la para as minhas composições. As suas letras são uma verdadeira obra de arte e possuem um valor cultural enorme que deveriam passar de geração em geração, mesmo no nosso sistema de ensino, e ao qual poderia juntar nomes como José Mário Branco e Zeca Afonso. Este álbum acompanhou-me muito e tem a que é para mim uma das canções mais bonitas das cantadas em português chamada “Espalhem A Notícia”.

13. Rui Veloso

Mingos E Os Samurais (1990)

Quando tinha por volta de dez anos, o meu avô ofereceu-me este disco pelo Natal. É um dos discos da minha vida, que me faz querer cantar e que me remete sempre para a minha infância e juventude com as maravilhosas histórias e poesia do Carlos . Cantei muito este disco no carro com os meus pais e irmã e penso saber todas as letras de cor. Gosto muito do trabalho do Rui Veloso e do Carlos Tê, são uma grande referência para mim.

14. Jorge Palma

Bairro Do Amor (1989)

O Jorge Palma também tinha de constar nesta lista. É uma outra grande referência minha, que me faz querer compor e cantar em português. Gosto muito deste disco e considero-o um dos mais importantes da música portuguesa. Sou um grande apreciador do trabalho do Jorge Palma.

15. Tim Bernardes

Recomeçar (2017)

Depois de conhecer a banda O Terno, Tim Bernardes lança este disco em 2017 e eu fiquei completamente arrebatado. Ouvi este disco em loop. A sua voz e as suas composições vêm dum sítio que só ele pode ter acesso através da sua sensibilidade. É um artista que admiro muito, sou muito fã. O álbum Recomeçar foi o que me levou até ele.