Quando uma banda como os Cusp lança um segundo álbum, é inevitável a comparação com o início do percurso. O grupo nasceu em Rochester, Nova Iorque, mas foi em Chicago que encontrou o seu verdadeiro centro, um espaço mais vasto e diversificado onde a identidade da banda se solidificou e amadureceu. What I Want Doesn’t Want Me Back é o reflexo dessa transição: um disco que não oferece gestos grandiosos, mas que encontra força na observação paciente do quotidiano, nos pequenos desequilíbrios e nas vitórias discretas que sustentam uma vida.
Jen Bender, voz e principal letrista, continua a escrever a partir da imperfeição e da dúvida, mas fá-lo com uma tranquilidade confiante. Há uma sinceridade natural nas suas palavras, que evitam o dramatismo para privilegiar o detalhe, nomeadamente as rotinas, as comparações inevitáveis, a necessidade de validação e o valor que se esconde nos gestos simples. Essa clareza, quase doméstica, é o que dá peso ao disco: Bender canta sobre falhar, observar e tentar outra vez, e nessa insistência revela uma lucidez rara.
Complementarmente, os Cusp continuam a ser uma banda de guitarras, mas expandem o seu som com subtileza. As novas adições ao grupo e o processo de gravação ao vivo no Electrical Audio, em Chicago, trouxeram-lhes uma sonoridade mais orgânica que se sente na forma como as canções respiram. As harmonias vocais e os arranjos ampliam o alcance emocional das composições. Não há pressa, nem artifício: o grupo prefere o tom natural, o registo cru, quase documental, de quem está mais interessado em capturar o instante do que propriamente em polir o resultado.
Através de melodias acessíveis e de um tom emocionalmente direto, What I Want Doesn’t Want Me Back ocupa um lugar curioso no mapa atual do indie rock. Herdeiro da honestidade dos anos 2010 e da melancolia melódica dos 90s, o disco parece afastar-se tanto do cinismo como da exuberância. É um trabalho sobre o realismo das pequenas coisas, sobre a beleza que existe no esforço e no cansaço. E ao fazê-lo, os Cusp tornam-se uma banda estranhamente reconfortante: não procuram parecer cool, apenas verdadeiros e isso dá-lhes um je ne sais quoi.
Com pouco menos de meia hora, o álbum desenha um retrato sóbrio e empático da vida comum, onde o humor, a autocrítica e a ternura coexistem. What I Want Doesn’t Want Me Back é, no fundo, uma afirmação de persistência: não de quem quer vencer, mas de quem quer continuar.










