“Eleanor the Great”: a estreia de Scarlett Johansson atrás das câmaras, num filme delicado

Eduardo Marino

Em Eleanor the Great, Scarlett Johansson estreia-se na realização com um filme pequeno e contido, tendo como pano de fundo o tema do luto.

Em Eleanor the Great, a estreia de Scarlett Johansson na realização, o que sobressai não é o brilho de Hollywood, mas a contenção. Longe das câmaras onde se habituou a ser o centro da atenção, Johansson entrega um filme pequeno, terno e silencioso – tendo a memória do Holocausto como pano de fundo -, que vive da observação e da generosidade com que olha para as suas personagens. Um gesto de confiança num cinema que respira devagar — e num elenco que sabe o que faz, em especial a extraordinária June Squibb, que aqui tem um dos grandes papéis da sua carreira.

O filme acompanha Eleanor, uma mulher de 94 anos que, depois da morte da melhor amiga, tenta reorganizar o que resta da sua vida. O que começa como um retrato íntimo da solidão transforma-se numa reflexão discreta sobre o envelhecimento e o lugar da amizade quando o mundo se começa a estreitar. Johansson filma-a sem pressas, com planos largos e luz suave, como quem respeita o ritmo de alguém que já viu tudo. Não há grandes reviravoltas, apenas o lento desabrochar de uma consciência: a de que a vida ainda pode oferecer surpresas, mesmo quando parece que já acabou.

June Squibb, que já tinha brilhado em Nebraska, dá a Eleanor uma ternura sem artifícios. A sua interpretação equilibra humor e melancolia, tornando o filme mais luminoso do que triste. A realizadora evita dramatismos: o choro, quando vem, é quase impercetível, e o riso aparece sempre no momento certo, como um suspiro. A câmara de Johansson observa, nunca impõe.

O argumento — coescrito por Johansson — joga com uma estrutura subtil: o público percebe mais do que as personagens. Sabemos o que Eleanor tenta evitar, o que os outros fingem não ver, e é essa tensão suave, quase invisível, que dá força ao filme. No final, tudo se fecha de forma simples, sem surpresas artificiais nem moralismos.

Ao lado de June Squibb, destacam-se Chiwetel Ejiofor, como o filho que tenta cuidar sem invadir, e Jessica Hecht, no papel da vizinha que representa a ponte entre o isolamento e o mundo exterior. Cada um deles traz calor e humanidade à história, sem procurar roubar a cena.

Eleanor the Great não procura ser um grande acontecimento. É um filme de gestos mínimos e emoções discretas, que aposta no poder da simplicidade. A ser apresentado no Tribeca Festival Lisboa, ainda não tem estreia confirmada nos cinemas portugueses. Quando chegar, será uma daquelas descobertas que se guardam com carinho — um lembrete de que o cinema pode ser profundamente comovente sem precisar de levantar a voz.

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