22 álbuns para ouvir esta semana

Francisco Pereira

Numa das semanas mais cheias do ano, apresentamos 22 discos que merecem uma escuta atenta. De Rosalía a Lisa Sereno, de Whitney a Portugal. The Man, entre muitos outros.

Rosalía, Lux (Columbia Records)

O destaque maior do dia, anunciado sem pré-aviso há cerca de uma semana e que todos já ouvem. Lux coloca Rosalía entre as vozes mais visionárias da música contemporânea. Gravado com a London Symphonic Orchestra sob a direção de Daníel Bjarnason, o disco expande o seu universo sonoro para dimensões quase litúrgicas, entrelaçando vozes femininas como as de Björk, Carminho, Estrella Morente, Silvia Pérez Cruz, Yahritza e Yves Tumor. A artista catalã, que já revolucionara o flamenco com El Mal Querer e levou a experimentação pop ao limite com Motomami, constrói aqui uma obra de luz e sombra, de intimidade e grandiosidade, onde emoção, espiritualidade e vanguarda convivem num mesmo corpo sonoro.

Sessa, Pequena Vertigem de Amor (edição independente)

Com Pequena Vertigem de Amor, o artista brasileiro Sessa lança o seu terceiro álbum, que sucede a Estrela Acesa (2022). Gravado entre abril de 2024 e março de 2025, o disco expande o universo de Sessa — que até agora se movia entre guitarra, viola caipira e poesia sussurrada — para incluir sintetizadores, wah-wah, bateria primitiva e arranjos de metais e cordas, numa reflexão sobre paternidade, mudança interior e vertigem amorosa.

Whitney, Small Talk (AWAL)

Formados em Chicago por Julien Ehrlich e Max Kakacek, os Whitney apresentam Small Talk como o seu quarto álbum de estúdio, lançado 3 anos depois de Spark. No regresso ao seu som original — folk-rock suave com grande sensibilidade melódica — o disco auto-produzido revela-se como uma reconexão ao ponto de partida e à essência do duo.

Mavis Staples, Sad And Beautiful World (ANTI-)

Com Sad And Beautiful World, Mavis Staples, ícone do gospel e da música soul americana, lança o seu novo álbum a solo via a editora ANTI-. Produzido por Brad Cook, o disco reúne repertório que abrange mais de sete décadas da música norte-americana, incluindo reinterpretações de Frank Ocean, Tom Waits, Gillian Welch e originais seus, e ainda colaborações com Buddy Guy, Bonnie Raitt, Jeff Tweedy, Katie Crutchfield, MJ Lenderman e Justin Vernon.

Portugal. The Man, Shish (Atlantic Records)

Com Shish, os Portugal. The Man voltam a reinventar-se, mostrando que continuam a ser uma banda imprevisível e criativa. Formados no Alasca e atualmente sediados em Portland, o grupo regressa após Chris Black Changed My Life (2023) com um disco que volta a explorar o equilíbrio entre a distorção psicadélica e a melodia pop, num registo mais quente e eufórico. Mais excitante também, talvez. Shish mantém as marcas de identidade da banda mas direciona-as para um território mais luminoso, celebrando a vida no seu absurdo quotidiano.

Sunflowers, You Have Fallen… Congratulations! (Fuzz Club Records)

Os portugueses Sunflowers regressam com You Have Fallen… Congratulations!, um álbum que mergulha ainda mais fundo na sua desconstrução do noise-punk, soando tanto a libertação como a colapso. O quinto álbum da dupla portuense (Carlos de Jesus e Carolina Brandão) é uma descarga crua e instintiva de energia, construída a partir de demos espontâneas que acabaram por definir o tom final do registo. Os Sunflowers continuam fiéis à sua filosofia DIY e ao impulso visceral que os tornou uma das bandas mais singulares do underground português.

Juana Molina, DOGA (Sonamos)

Depois de oito anos sem lançar um álbum com composições inéditas, a artista argentina Juana Molina regressa com DOGA, o seu oitavo álbum de estúdio, editado no dia 5 pela sua própria editora Sonamos. O disco, resultado de sessões de improvisação iniciadas em 2019 com o tecladista Odín Schwartz e concluídas em 2024 com a produção do colaborador Emilio Haro, cresce a partir de texturas eletrónicas, loops analógicos e guitarras surf-ambientadas, num território tão íntimo quanto expansivo. Com dez faixas, DOGA capta a essência minimalista e singular que caracterizou Molina até agora, mas com uma energia nova e mais incisiva.

Insecure Men, A Man For All Seasons (Fat Possum Records)

Depois de um colapso pessoal que o levou a enfrentar a psicose e a dependência, Saul Adamczewski (cofundador dos Fat White Family) renasce com A Man For All Seasons, o segundo álbum dos Insecure Men. Gravado nos Konk Studios, em Londres, com produção de Raf Rundell, o disco marca uma viragem criativa e emocional: mais colaborativo, mais vulnerável, e profundamente humano. Entre ecos de country melancólico, pop narcótica e arranjos luxuriantes, Adamczewski revisita as feridas da adição, do amor e da saúde mental com uma honestidade desarmante.

Stella Donnelly – Love And Fortune (Dot Dash Recordings / Brace Yourself Records)

Stella Donnelly lançou Love And Fortune, um álbum que funde vulnerabilidade, introspecção e melodia de forma bastante envolvente. Gravado em Naarm/Melbourne após um período de pausa em que repensou a sua relação com a música, o disco é construído em torno de temas de despedida, transformação e auto-reconhecimento. As composições assumem uma sonoridade mais despida permitindo à voz de Donnelly emergir com clareza e força emocional.

Jeb Loy Nichols, This House Is Empty Without You (Timmion Records)

Jeb Loy Nichols regressa com This House Is Empty Without You, um disco que reafirma o seu dom raro de fazer música que parece suspensa no tempo. Acompanhado novamente pela banda finlandesa Cold Diamond & Mink, Jeb Loy Nichols entrega um conjunto de canções mergulhadas nas raízes da soul sulista, onde a melancolia e o conforto caminham lado a lado. As melodias suaves, o groove discreto e os arranjos minimalistas servem de pano de fundo à sua voz cálida e às letras de uma simplicidade poética desarmante.

Sorry, COSPLAY (Domino Recording Co.)

Com COSPLAY, os londrinos Sorry afirmam-se como uma das bandas mais inquietas e imprevisíveis da cena britânica atual. O disco, sucessor de Anywhere But Here (2022) e do aclamado 925 (2020), é um labirinto sonoro onde o art rock, o indie e o pop experimental se cruzam com ironia, humor e melancolia. Gravado em vários estúdios e com diferentes colaboradores, o álbum traduz-se num conjunto de canções que brincam com identidades, referências culturais e disfarces, tal como o título sugere.

The Mountain Goats – Through This Fire Across From Peter Balkan (Merge Records)

Com Through This Fire Across From Peter Balkan, John Darnielle e os seus The Mountain Goats voltam a provar que poucas bandas cultivam a arte da narrativa musical com tamanha consistência. Três décadas depois de iniciar o projeto com gravações caseiras em cassetes, Darnielle mantém a veia criativa intacta, agora apoiada por arranjos mais expansivos e uma produção luminosa.

Devon Church, All That’s Solid Melts Into Air (Felte Records)

No seu terceiro álbum, Devon Church mergulha no caos contemporâneo com um olhar lúcido e uma sonoridade que parece emergir das ruínas do passado. All That’s Solid Melts Into Air é uma meditação sombria sobre o colapso do mundo moderno: o capitalismo em decomposição, o apocalipse climático, a economia da atenção e a vertigem de um planeta à beira da guerra. A voz grave e distante do cantor canadiano paira sobre estas paisagens saturadas como a de um profeta cansado, resignado mas ainda lírico.

Jonathan Jeremiah, We Come Alive (PIAS Recordings)

Jonathan Jeremiah regressa com We Come Alive, o seu sexto álbum, e talvez o mais marcante da sua carreira. Fiel à elegância soul-folk que sempre o distinguiu, o disco é atravessado por uma melancolia luminosa: uma tentativa de transformar o luto pela morte do pai numa celebração da vida, da memória e da pertença. Entre ecos de chanson francesa, folk californiana e arranjos de banda sonora dos anos 60, Jeremiah move-se com a mesma elegância com que orquestra a dor. A participação do trompetista Till Brönner acrescenta um toque jazzístico e intemporal a um álbum que respira como um filme.

Willie Nelson, Workin’ Man: Willie Sings Merle (Legacy Recordings)

Aos 92 anos, Willie Nelson continua a escrever a sua própria lenda americana e em Workin’ Man: Willie Sings Merle, presta homenagem a outro gigante do country, o seu velho amigo e cúmplice Merle Haggard. O álbum, o seu 155º (!) registo, reúne 11 novas interpretações de clássicos de Haggard, revisitados com a serenidade e a sabedoria de quem viveu dentro das canções que canta. Gravado com o inconfundível toque da Family Band, o disco reafirma a devoção de Nelson à tradição, mas também à amizade e à memória.

Midlake, A Bridge To Far (Midlake Records / Believe)

No seu sexto álbum de estúdio, A Bridge To Far, os Midlake reforçam o estatuto de colectivo folk-rock de Denton, Texas, com uma obra que emerge de mais de duas décadas juntos mas soa revitalizada, focada na esperança, humildade e perseverança. Gravado no The Echo Lab, com produção de Sam Evian, o disco surgiu após uma fase de incerteza para a banda e reflecte essa vulnerabilidade de forma cinemática e com a colaboração de artistas como Madison Cunningham e Hannah Cohen.

Constant Smiles, Moonflowers (Felte Records)

Os nova-iorquinos Constant Smiles apresentam o seu trabalho mais refinado até à data, um álbum que assinala o seu ingresso no selo Felte Records. Gravado sob o núcleo composto por Ben Jones, Nora Knight e Spike Currier, o disco sela uma trajectória que se estendeu desde paisagens de synth-pop frias e fragmentadas para um folk-pop ambientado, pleno de textura, nuance e amplitude emocional.

Hatchie, Liquorice (Secretly Canadian)

A australiana Hatchie apresenta-nos Liquorice, o seu terceiro álbum de estúdio que chega após o lançamento de Giving the World Away (2022). O disco revisita o dream-pop com influências de shoegaze, rock alternativo dos anos 90 e melodias que continuam a evidenciar a sua voz suave e emotiva. Hatchie afirma que este álbum “é a culminação de tudo o que queria fazer com este projecto desde que o comecei”, propondo-se a transformar limitações em força criativa.

Westerman, A Jackal’s Wedding (Partisan Records)

Em A Jackal’s Wedding, o músico britânico Westerman entrega o seu terceiro álbum sucedendo An Inbuilt Fault (2023). Escrito em Atenas e gravado em cinco semanas na ilha grega de Hydra, em colaboração com a produtora Marta Salogni, o disco reflecte uma fase de transição e descoberta: janelas abertas ao calor seco, humidade mediterrânica, tambores primitivos e sintetizador em loop. O álbum surge como documento de partidas e chegadas, metamorfoses pessoais e uma escuta que equilibra elegância.

Lisa Sereno, Belonging (Omnichord Records)

Com Belonging, a cantautora luso-portuguesa Lisa Sereno estreia-se plenamente no largo formato com um disco carregado de sentimento e introspecção. Natural de Leiria, e com formação no coro da igreja local e no Conservatório Nacional, Lisa opta por transformar vivências pessoais como perdas, mudanças ou a procura de um lugar de pertença, em canções de folk contemporâneo. O álbum sucede os singles “Mystery” (2024) e “Tan Line” (2025), e propõe-se como um registo de cura: “um luto pelas experiências em que nos perdemos ao tentar moldar-nos a lugares, situações ou pessoas a que não pertencíamos”, nas suas palavras.

Human Natures – Electric Dreams (Skud & Smarty Records)

O projecto luso-português Human Natures lança Electric Dreams, o seu primeiro álbum, sob o selo Skud & Smarty Records. Liderado por João Ribeiro e integrado por uma nova geração de músicos emergentes nacionais, o disco apresenta-se como uma viagem onírica através de texturas melódicas e sonoridades atmosféricas, onde guitarras cíclicas, vozes serenas e paisagens sensoriais se cruzam com reflexões sobre o tempo e a ligação humana. A edição vem acompanhada de concertos de apresentação em Coimbra, Guimarães, Lisboa e Porto, reforçando a ambição do projecto de transformar uma ideia musical num colectivo vivo.

Steve Gunn – Daylight Daylight (No Quarter)

Com Daylight Daylight, Steve Gunn entrega o seu sétimo álbum de estúdio via No Quarter. Depois de uma fase mais experimental e instrumentada, Gunn regressa com uma abordagem mais contida — gravado principalmente com o colaborador de longa data James Elkington, o disco aposta em arranjos de cordas, madeiras e baixo acústico, permitindo que a sua guitarra e voz laborem num espaço mais íntimo.