Mavis Staples lançou o seu novo disco, Sad And Beautiful World, e consigo traz mais de sete décadas de música, mas também de fé, activismo e história. Não estamos perante nenhum capítulo final mas sim perante um compromisso renovado, cheio de esperança, empatia e propósito. Mavis Staples está de regresso com a singular voz da alma e da resistência.
Em termos factuais, o álbum é, na verdade, composto maioritariamente de versões. Nove das dez faixas são interpretações, produzidas por Brad Cook, e acompanhadas por uma lista impressionante de colaboradores que variam entre o lendário e o contemporâneo: de Bonnie Raitt a Katie Crutchfield (Waxahatchee), passando por MJ Lenderman e Jeff Tweedy. O único tema original, “Human Mind”, foi escrito para Staples por Hozier e Allison Russell, o que nos dá outro sinal de que a lendária cantora continua a ser um farol que atravessa gerações.
Para compreender este álbum no percurso de Mavis, convém lembrar que ela emergiu nos anos 1950 com os Staple Singers (dos quais é a única sobrevivente), imersa no gospel e na luta dos direitos civis. Já nessa altura, a música dela soava como um credo de esperança e mudança. Agora, em 2025, 75 anos depois, ela volta ao palco musical com uma serenidade de quem não precisa de provar nada a ninguém, mas que ainda quer cantar para o mundo com atenção e relevância. E esse equilíbrio, entre a sabedoria de quem já viu muito e a urgente necessidade de comunicar, é exactamente o que distingue Sad And Beautiful World.
O disco ajusta o foco para aquilo que acaba por ser uma imagem de marca da norte-americana: a voz de Staples aparece, em destaque, num registo honesto, menos extravagante do que noutras épocas, mas mais profundo. As produções de Cook privilegiam instrumentos orgânicos como metais mais discretos, guitarras suaves, órgãos quentes, o que constrói uma camada sonora que deixa a voz de Staples no seu topo, onde é o seu lugar. E as versões das músicas chegadas de diversas décadas e géneros dialogam com o presente. Não estamos a ouvir simples versões. O que ouvimos são revelações do seu carácter e da sua mensagem. A forma como ela aborda “Anthem” de Leonard Cohen ou “We Got to Have Peace” de Curtis Mayfield mostra que a ponte entre passado e presente permanece essencial.
Com Sad And Beautiful World, Mavis Staples não está a revisitar o passado, está a usá-lo para iluminar o presente. Este disco é a expressão de alguém que tem consciência da própria voz e não precisa exagerar para se fazer ouvir. Em tempos difíceis, há um conforto equilibrado, e que faz perfeito sentido, em ouvir esta voz que já conhecemos a contar uma nova história destas músicas que já ouvimos.
* fotografia de Elizabeth De La Piedra











