Três décadas depois do seu nascimento, os Morcheeba regressam com o seu 11.º álbum de estúdio, Escape the Chaos, um trabalho que conjuga a habitual serenidade cinematográfica com uma busca por reinvenção emocional e intimidade familiar.
Desde a abertura com “Call For Love”, somos imediatamente envolvidos por Skye Edwards e as suas harmonias suaves sobre paisagens sonoras ricas e acolhedoras – uma assinatura reafirmada por Ross Godfrey para evocar conforto num mundo agitado. A produção minuciosa, gravada em Dublin com a presença da família – com o filho de Skye, Jaega, na bateria, e o marido Steve no baixo – traduz-se num registo caloroso e espontâneo.
O single “We Live and Die” destaca-se como uma ode pessoal ao percurso do grupo: “é uma homenagem aos trinta anos da banda, que representam 60% da minha existência”, afirma Skye. A sensibilidade pessoal espelha-se também em “Elephant Clouds” e “Far We Come”, canções folk-pop que evocam introspeção e que reforçam o sentido de genuinidade sonora.
Uma das mais bem conseguidas colaborações é “Peace of Me”, com o rapper Oscar #Worldpeace — uma mescla de trip-hop com soul urbana, onde o rap pontua um tema que se torna uma súplica contra a cultura do conflito. Já “Pareidolia” traz uma atemporalidade quase mística, com Elise Zamolo a acrescentar camadas vocais etéreas, num ambiente evocativo de introspecção artística.
Apesar da suavidade predominante, o disco não ignora zonas de sombra. O tema-título, “Escape the Chaos”, emerge pela fusão de guitarras eléctricas e bases tortuosas, num crescendo tenso que quebra a calma. É o momento em que o conjunto soa substancial, com pequenas escapadas ao conforto de forma rica e inesperada.
No entanto, é justamente essa suavidade — essa clareza melódica com espaços respiráveis — que faz do álbum uma escapadela apaziguadora da realidade conturbada.
Escape the Chaos mostra-nos os Morcheeba em plena forma, reequilibrando a sua discografia entre familiaridade e evolução. É um álbum onde a presença familiar no estúdio e os arranjos atmosféricos se unem para oferecer uma obra serena, íntima e surpreendentemente sólida. É um registo que valoriza o trip-hop consciente, maduro e emocional.