Amaarae já não é novidade para ninguém que goste de música pop fora da caixa. Mas com “Black Star” ela parece querer deixar claro que não está interessada em ser só “a artista alternativa africana cool” — está aqui para criar o seu próprio planeta, onde o r&b, o afrofuturismo, o pop e até umas piscadelas ao hyperpop coexistem como se fosse a coisa mais natural do mundo.
O disco não perde tempo em dar-nos aquele turbilhão de texturas que já era marca no anterior “Fountain Baby”. Só que aqui soa mais ambicioso, mais adulto, quase como se ela tivesse decidido brincar com tudo o que aprendeu até agora. E sim, há momentos dançáveis que piscam o olho ao clubbing global, mas também há canções que são puro statement de artista que não precisa de rótulos para justificar a sua existência.
Mal se começa a ouvir “Black Star” é-se sugado para dentro do groove da Amaarae. A faixa de abertura, “Stuck Up”, chega com uma confiança cool e uma batida que parece pedir pista logo no primeiro segundo. E depois chega “Starkilla” — um verdadeiro hino de dança onde a energia é tão elétrica que só apetece aumentar o volume. Em “ms60”, com a icónica Naomi Campbell, há um glamour inesperado que eleva o álbum a outro nível. Doce, sensual, mas com aquela ponta de descontrolo muito Amaarae.
A produção tem aqueles baixos gordos que se colam ao corpo, sintetizadores que parecem arrancados de um filme sci-fi dos anos 80 e uma voz que ora seduz, ora desafia. E é talvez aí que Amaarae mais ganha: ela soa sempre livre, como se estivesse a cantar primeiro para si própria e só depois para nós.
Claro que não é um álbum para toda a gente. Quem procura a pop quadradinha, formatada para rádio, pode ficar perdido no meio da excentricidade. Mas quem entra no jogo percebe que “Black Star” não é só mais um disco: é um mapa de possibilidades, um lembrete de que a música pop pode ser tão estranha quanto divertida.