Quase três anos após a saída de Isaac Wood, o vocalista e principal compositor dos Black Country, New Road, a banda britânica enfrentou um desafio monumental: como seguir em frente sem a voz que definiu os seus dois primeiros discos? A resposta chega com Forever Howlong, um álbum que oscila entre o luto e a descoberta, entre a nostalgia e a coragem de abraçar o desconhecido.
Sem Wood, os Black Country, New Road optaram por um modelo democrático, onde cada membro assume o papel de vocalista em diferentes faixas. O resultado é um disco fragmentado, embora fascinante, e que soa como uma collage de identidades em transição. Tyler Hyde (baixo) e May Kershaw (teclados) emergem como as vozes mais marcantes, e com letras que flertam com o surrealismo e a melancolia quotidiana. Em “The Boy Who Couldn’t Decide”, Hyde canta sobre indecisão e perda com uma entrega vocal que lembra os torch songs de Scott Walker, enquanto Kershaw brilha em “Magnetic Fields”, uma balada no piano que poderia perfeitamente estar num álbum perdido dos Belle and Sebastian.
Musicalmente, os Black Country, New Road mantêem ainda assim a sua assinatura pós-rock com toques de jazz e chamber pop, mas agora com mais espaço para experimentações subtis. “Static Over Heaven” é um showcase da banda no seu melhor: guitarras nervosas, metais melancólicos e uma estrutura que desmorona e se reconstrói em minutos. Já “Forever Now” surpreende com um arranjo quase folk, mostrando uma faceta mais íntima do grupo.
Forever Howlong não será tão coeso quanto Ants From Up There nem tão visceral quanto For the first time, mas é um testemunho corajoso de uma banda em evolução. Se antes os Black Country, New Road eram definidos por uma angústia pessoal, agora abraçam o coletivo, mesmo que isso signifique dar os primeiros novos passos do seu renascimento.
* fotografia de Eddie Whelan