Quatro álbuns em três anos. Sim, quatro. Numa era em que até os mais ambiciosos artistas mal conseguem lançar dois discos por década, os Bug Club seguem num sprint criativo, imparáveis e inspirados. Depois do (relativamente) musculado On the Intricate Inner Workings of the System, o duo galês formado por Sam Willmett e Tilly Harris regressa com Very Human Features — uma colecção de canções tão espirituosa quanto emocional, onde se ouve a maturação de uma banda que, felizmente, ainda se recusa a crescer de forma aborrecida.
A abrir, “Full Grown Man” oferece um vislumbre imediato da alquimia criativa que define o álbum: trocas de vocalistas num jogo de “eu”, “tu” e “nós” que tanto satiriza como homenageia as relações humanas. A estética lo-fi mantém-se, mas há uma frescura mais melódica, quase pop, que invade o caos controlado dos Bug Club. Canções como “How To Be A Confidante” e “Twirling In The Middle” demonstram isso: entre o rocksteady, o glam e o sarcasmo bíblico, a banda ri-se do mundo (e de si própria) com uma alegria desconcertante. “Pensaste que isto tinha acabado?”, atiram eles. “Estamos só a começar.” E disparam um solo, claro. Um dos bons, evidentemente.
Contudo Very Human Features não vive só do gozo. Há aqui camadas emocionais inéditas no universo da banda. “Jealous Boy” explora a insegurança com um crescendo grunge-pop digno dos anos 90; “Appropriate Emotions” parece reflectir sobre a própria condição humana com um distanciamento quase alienígena; e “Muck (Very Human Features)” surpreende com um tom acústico e spoken word que remete ao lado mais introspectivo de discos anteriores como Rare Birds: Hour Of Song. É uma canção que soa a divagação interior, a confusão existencial, e talvez por isso seja um dos pontos altos do disco.

O talento da banda para contar histórias continua em alta — como em “Young Reader” ou “Living In The Future” —, onde as letras capturam o absurdo da vida moderna com uma lírica que parece saída de um zine punk filosófico. Musicalmente, o álbum mantém a energia dos Bug Club, mas com um novo equilíbrio entre o punk suado e uma sensibilidade indie mais refinada. Lembra-mo-nos talvez de uma versão menos cínica dos Modern Lovers ou numa espécie de Belle & Sebastian mas em modo hiperativo e ruidoso.
Apesar do título, não há nada “muito humano” no sentido banal neste disco. Há, isso sim, uma humanidade feita de contradições, sarcasmo, doçura, gritos e ternura — como todos nós, só que com melhores riffs. E sim, ainda há espaço para referências à cultura pop, como a deliciosa confusão lírica em “Muck”.
Very Human Features é, portanto, mais um passo firme (e deliciosamente barulhento) numa discografia que já parece uma autobiografia em tempo real. Os Bug Club continuam a expandir o seu som sem perder o charme lo-fi ou o humor tresloucado. E talvez seja esta a sua verdadeira característica humana: nunca estarem quietos, nunca estarem satisfeitos, mas estarem sempre a criar.