Interior Live Oak foi lançado na passada sexta-feira e chegou como o 11.º álbum de Cass McCombs, após mais de duas décadas a esculpir uma carreira discreta mas segura no mundo do indie-folk-rock norte-americano. Gravado entre a Bay Area e Nova Iorque, McCombs volta a colaborar com companheiros de longa data, como Jason Quever e Chris Cohen, apostando num registo que junta clareza lírica e melódica com uma produção direta mas cuidada. O título do álbum, Interior Live Oak, evoca uma árvore típica do norte da Califórnia e sinaliza uma postura de esperança, não obstante temas que muitas vezes rasuram longe do conforto.
Este álbum estende-se por cerca de 74 minutos, mas longe de se arrastar, antes desdobra-se como uma experiência imersiva. Cada uma das 16 canções tem espaço para respirar e desenvolver o seu universo, num repertório que transita com elegância entre folk-rock, country, jazz e texturas mais experimentais. Há músicas que se deslizam com riffs cristalinos e melodias diáfanas, outras que exploram ambientes acústicos ou evocam paisagens míticas americanas, com imagens literárias ricas e personagens que ganham corpo com o olhar justo e poético de McCombs.
A escrita é densa, com intenção e jogo de metáforas que convidam a revisitas: cenários como pontes icónicas ou paisagens urbanas são pintadas com pinceladas realistas e oníricas, conferindo às letras uma profundidade rar. A sua abordagem vocal mantém aquela expressividade contida — quase tímida — que o acompanha desde sempre, mas que aqui se alia a arranjos que variam entre o pianíssimo introspectivo e riffs organísticos ou guitarras desert-rock.
No fundo, Interior Live Oak reafirma McCombs como um contador de histórias singular. Há temas que passeiam pelos ambientes mais terrenos e outros que invocam dimensões míticas, tudo numa moldura em que o quotidiano e o extraordinário se misturam. É um disco em que o humor e a reflexão coexistem, a maturidade coexistindo com uma veia ainda adolescente, e em que a clareza não traí a complexidade.
Para quem acompanha Cass McCombs desde os seus tempos mais eclécticos e densos — aqueles álbuns que se agarram aos recantos da mente e pedem repetidas audições — este novo trabalho parece representar uma síntese elegante desse percurso. Reúne a sensibilidade literária, o traço folk-rock cru, o desenho de personagens e a inquietação estética, com uma entrega mais contida e também mais focada.
Interior Live Oak ergue-se como um retrato de amadurecimento: é expansivo sem nunca se alongar em demasia, generoso mas contido, vindo de um artista que, depois de tantos registos, continua a aperfeiçoar o equilíbrio entre melodia, narrativa e atmosfera. Cass McCombs entrega um álbum que sabe a confidentemente seu — e que faz de quem ouve sentir-se, por instantes, dentro de uma clareira íntima, rodeado de luz e sombra e carregado de poesia.