Edward Berger perde a mão em “Ballad of a Small Player”

Eduardo Marino

No brilho decadente dos casinos de Macau, Colin Farrell dá corpo a um jogador à beira do colapso. Em Ballad of a Small Player, Edward Berger troca a glória pela ruína — e nem o talento do elenco consegue cobrir as dívidas da história.

Em Ballad of a Small Player, Edward Berger troca as trincheiras da Primeira Guerra Mundial — onde brilhou com All Quiet on the Western Front — pelos néons e fumo espesso de Macau, num filme que tenta explorar a ruína moral e emocional de um jogador em colapso. A premissa parecia ouro: Colin Farrell como um vigarista elegante, à beira da bancarrota, e Tilda Swinton como a mulher enigmática que cruza o seu caminho. Mas, apesar de todos os trunfos, o realizador não acerta o jackpot.

A história segue Lord Doyle, um homem que outrora viveu entre luxo e aparências, agora reduzido a noites sem fim nas mesas de jogo de Macau, na esperança desesperada de saldar as dívidas que o perseguem. Berger filma-o com o mesmo olhar meticulosocom que registou a guerra, mas aqui o método perde impacto: o vício, a culpa e o desespero do protagonista parecem sempre observados à distância.

O tom melancólico é reforçado pela estética — uma fotografia elegante, quase vaporosa, que transforma os casinos e hotéis decadentes em refúgios de um passado que já não existe. Farrell está no ponto: contido, fatigado, com uma vulnerabilidade que o cinema raramente lhe permite mostrar. Swinton, como a mulher que o confronta e desarma, surge com a precisão habitual.

O problema é que Ballad of a Small Player promete mais do que entrega. O argumento, adaptado do romance de Lawrence Osborne, quer ser uma parábola sobre a culpa, o dinheiro e a decadência do privilégio ocidental no Oriente, mas acaba por ficar preso na superfície das boas intenções.

Nos festivais onde foi apresentado — primeiro em Cannes e depois em Toronto Ballad of a Small Player saiu de cena com aplausos contidos e um consenso discreto: é um filme elegante, mas frio, tecnicamente irrepreensível, mas emocionalmente distante. A crítica reconheceu o talento de Colin Farrell e Tilda Swinton, mas lamentou a falta de risco e intensidade que se esperava de Edward Berger depois do sucesso estrondoso de All Quiet on the Western Front. As ambições de prémios parecem, por isso, fora de jogo. Ainda assim, o filme poderá ter vida longa na Netflix — um drama visualmente requintado sobre a falência moral e o preço do vício, ideal para quem prefere perder devagar.