Haim – I Quit (2025)

Francisco Pereira

Crítica: Com "I Quit", as Haim entregam um disco de libertação e reinvenção, onde pop, indie e vulnerabilidade se cruzam com ambição e maturidade emocional.

As Haim regressaram com I Quit, o seu quarto álbum de estúdio, num momento de libertação emocional e transformação. Com Danielle Haim no comando da produção — ao lado de Rostam Batmanglij e Buddy Ross — o trio confirma uma evolução sonora, incorporando influências que vão dos clássicos do soft rock californiano, passando pelo folk, garage-blues, R&B, nu-metal e até toques de disco e UK garage.

O álbum abre com “Gone”, que salienta o tom de desassociação declamando “Can I have your attention please…?” antes de incorporar um sample de Freedom! ’90 de George Michael, estabelecendo o ciclo temático: deixar para trás aquilo que deixa de servir. Em “Relationships” e “Down to Be Wrong”, as Haim exploram os altos e baixos afetivos, entre o sofrimento e a libertação, com refrões eficazes e diálogos sonoros que combinam indie rock e emocore. O percussionismo otimista de “Down to Be Wrong” chegou mesmo a ser saudado como um hino instantâneo pela Rolling Stone UK.

No entanto, o álbum não deixa de se apresentar, por vezes, musicalmente desigual. Faixas como “Lucky Stars” e “Cry” atravessam o território shoegaze e synth-country com boa execução, mas por vezes soam dispersas ou menos memoráveis.

Ainda assim, Danielle assume o centro do projecto, com linhas desafiadoras e confessionais; mas Alana e Este também brilham: Alana lidera em “Spinning” com um groove disco já comparado a Arthur Russell, enquanto Este emociona em “Cry” com um country-pop intimista. O conjunto atinge o ponto alto em “The Farm”, onde a simplicidade acústica transmite uma sensação de reconciliação emocional.

O clímax surge em “Now It’s Time”, que reutiliza um sample irónico de Numb dos U2 num último suspiro de autoafirmação. Ainda que o resultado pareça excessivamente comprimido — uma tentativa de síntese sonora às vezes sobrecarregada —, revela as ambições artísticas da banda.

Em resumo, I Quit parece-nos mais como um álbum de transição, de libertação e autoafirmação. Embora a produção seja por vezes contraditória, há momentos de pura inspiração emocional e outros em que a banda se reinventa com ousadia pop. Trata-se de uma obra que, apesar da imperfeição, é visceral, honesta, e fundamental para o percurso da banda — uma declaração de “desisto de deixar de me importar” que soará em altos e baixos na estrada da I Quit Tour, prestes a percorrer a América e Europa

Para finalizar, I Quit apresenta as Haim mais maduras e determinadas: deixam para trás relações, compromissos musicais e rótulos. O resultado é um misto de vulnerabilidade e bravura pop-rock que, mesmo com a sua diversidade de estilos, mostra uma banda pronta para o próximo capítulo, ainda que isso signifique confrontar as sombras do passado.

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