Japanese Breakfast – For Melancholy Brunettes (& sad women) (2025)

Francisco Pereira

Estamos, sem dúvida, perante um dos grandes discos do ano. Zauner apresenta uma ode teatral à melancolia.

O quarto álbum dos Japanese BreakfastFor Melancholy Brunettes (& sad women), é uma obra que oscila entre a grandiosidade orquestral e a intimidade confessional, explorando temas como fama, mitologia e a natureza performativa da tristeza. Michelle Zauner, já consagrada tanto pela sua música como pelo seu best-seller Crying in H Mart, entrega um disco que é ao mesmo tempo uma evolução sonora e uma reflexão sobre o peso da visibilidade pública.

A produção de Blake Mills é um dos pontos altos do álbum, trazendo uma textura rica e detalhada que contrasta com o lo-fi dos trabalhos anteriores de Zauner. A abertura com “Here Is Someone”, com os seus arranjos de cordas e flautas, estabelece um tom melancólico e introspectivo, quase como que uma overture para um drama teatral. A faixa também introduz um dos temas centrais do álbum: a culpa e o cansaço de Zauner perante as exigências da fama. A linha “Life is sad but here is someone” é um dos momentos mais comoventes do disco, encapsulando a dualidade entre a tristeza existencial e a conexão humana.

O disco apresenta momentos de brilho inegável. “Mega Circuit” é uma das faixas mais ousadas do álbum. A letra afiada e a atmosfera sombria fazem dela um dos pontos altos do disco, mostrando Zauner na sua melhor forma: cerebral, mas visceral. Já “Honey Water” é uma explosão de raiva contida, com uma guitarra metálica e um clímax psicadélico que representa a frustração de uma mulher traída. É uma das poucas vezes em que o álbum permite que a emoção crua venha à tona, sem a mediação de metáforas ou referências literárias.

O álbum também se destaca pela sua natureza auto-referencial, com conexões claras com trabalhos anteriores de da compositora. “Winter in LA” parece uma continuação espiritual de “Boyish”, do álbum Soft Sounds from Another Planet, enquanto que “Little Girl” explora a relação conturbada de Zauner com o seu pai, ecoando temas familiares presentes em Crying in H Mart. Essas referências criam uma sensação de continuidade na discografia dos Japanese Breakfast, embora, no limite, possam alienar novos ouvintes, que podem sentir-se excluídos de uma narrativa tão pessoal.

No geral, For Melancholy Brunettes (& sad women) é um álbum ambicioso e intelectualmente estimulante, e que se revela como um dos grandes discos do ano (apesar de ainda estarmos no primeiro terço). Zauner continua a ser uma das vozes mais interessantes do indie contemporâneo, mas aqui ela parece mais interessada em explorar a tristeza como um conceito do que como uma experiência visceral. É um disco que recompensa a paciência e a atenção, e que consegue equilibrar a sua grandiosidade com a intimidade que caracteriza a sua obra.