Os Lifeguard, trio juvenil de Chicago, entram em cena com este álbum de estreia, Ripped and Torn, e não nos parece exagero dizer que o barulho que têm feito até agora está mais do que justificado. Com membros que ainda nem chegaram aos 21 anos, a banda mostra uma maturidade sonora surpreendente, navegando entre o pós-punk, o garage rock e a experimentação sonora com uma confiança rara para a sua idade (ou pelo menos raramente vista desde que a primeira década do milénio terminou).
Desde o momento em que começamos a ouvir a faixa de abertura, “A Tightwire”, sentimos uma explosão de energia onde bateria e guitarra se entrelaçam numa dança caótica que parece prestes a explodir. O disco, percebe-se, demonstra um equilíbrio perfeito entre ruído e melodia. É uma mistura magistral de influências que, em vez de soar a mera repetição do passado, ganha vida própria, graças a uma abordagem fresca e quase cirúrgica que despedaça e remonta estes sons clássicos numa nova forma vibrante.
A produção, a cargo do experiente Randy Randall (dos No Age), acentua esta fusão entre o ruido bruto e os momentos pop mais acessíveis. Faixas como “It Will Get Worse” destacam-se pelo seu brilho jangle pop e pelos riffs que parecem flutuar entre um slacker rock e um punk vibrante, enquanto “How To Say Deisar” e “France And” exploram territórios mais dissonantes e experimentais, com guitarras enlouquecidas e uma intensidade quase no wave (perdoem a quantidade de denominações).
Mas o que torna Ripped and Torn verdadeiramente notável é o seu coração pop — aquelas pequenas faíscas de melodia que fazem a diferença. Momentos como o pré-refrão hipnótico de “How To Say Deisar” ou a simplicidade elegante do tema-título mostram uma banda que sabe exactamente o que está a fazer. Os Lifeguard não são meros revivalistas ou nostalgistas: são jovens com visão e foco, apurados na arte de reimaginar o indie rock com uma energia contagiante e uma clareza impressionante.
Inseridos no vibrante cenário DIY (Do It Yourself – Faz Tu Mesmo) de Chicago e profundamente ligados à comunidade local, os Lifeguard carregam consigo uma tradição, mas também uma chama própria que os distingue. São a prova de que o poder do trio de guitarra, baixo e bateria continua vivo, fresco e pronto para redefinir os parâmetros do que o rock independente pode ser.
Ripped and Torn é uma verdadeira declaração de intenções. Um convite a juntar-se a uma nova geração que olha para trás sem medo, mas caminha firmemente para o futuro.