Lily Allen – West End Girl (2025)

Eduardo Marino

Em West End Girl, Lily Allen transforma o fim do seu casamento com o ator David Harbour num retrato pop de dor, ironia e libertação.

West End Girl, o quinto álbum da artista britânica, mostra-se como um exercício artístico que atravessa fases privadas — da proposta de relação aberta à descoberta de mensagens comprometedoras e ao uso de apps de encontros. A cantora define o trabalho como “uma mistura de facto e ficção” e afirma que o escreveu e gravou durante cerca de dez dias, logo após o fim do seu casamento.

O disco abre com a faixa-título, “West End Girl”, uma introdução melódica que estabelece o cenário: vida urbana, reflexões sobre identidade e o choque entre imagem pública e vulnerabilidade privada. Depois, “Ruminating”enfrenta diretamente o desconforto de “ser convidada a acreditar que estava tudo bem” quando já não estava. “Tennis” e “Madeline” exploram respectivamente a descoberta de trocas comprometedoras e a presença de uma “outra” — seja real ou simbólica — no centro da narrativa da ruptura.

Musicalmente, o álbum navega por texturas variadas: há electrónica com batidas secas, pop com refrãos pegajosos e momentos mais contidos. A produção é assinada por vários nomes, incluindo Blue May, Kito e outros, o que dá ao álbum uma diversidade sonora coerente com os estados de espírito por que passa.

Num momento de fragilidade, “Sleepwalking” representa o estar ali sem estar — caminhar em automático depois da traição. Já “Just Enough” traz cordas suaves e uma letra que admite que talvez “não seja suficiente” mas ainda assim dá. Os momentos de confronto existem, mas a cantora evita a caricatura da vingança: como ela própria disse, este não é “um álbum de vingança”: “I don’t feel confused or angry now. I don’t need revenge.”

Nas redes sociais, a reação tem sido intensa — o álbum é constantemente citado em conversas sobre “break-up records” que ficam para a história, não só pela narrativa mas pelas manchetes em torno dele. A abordagem franca de Allen, com humor ácido, auto-exposição e ganchos pop, torna o trabalho ao mesmo tempo “juicy” e introspectivo.

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