Se a ideia de ver um filme de animação costuma trazer à mente diversão e leveza, Memoir of a Snail chega para esmagar essas expectativas como um caracol distraído no meio do passeio. Esta pérola deprimentemente bela, realizada pela australiana Adam Elliot (Mary and Max), faz-nos rir e chorar em doses generosas – mas, sejamos honestos, mais chorar do que rir.
A história acompanha Grace Puddle, uma mulher marcada por tragédias desde a infância e cuja única companhia fiel ao longo dos anos é o seu caracol de estimação. Crescer numa família disfuncional, perder aqueles que ama e enfrentar o isolamento tornam-se temas recorrentes na sua jornada. Tudo isto contado com aquele estilo inconfundível de Elliot: animação em stop-motion, personagens de traços exagerados e um tom narrativo que mistura humor negro com uma tristeza cortante.
A cereja no topo do bolo? As vozes australianas que dão vida a esta tragédia animada. Sarah Snook (Succession) brilha como Grace, conseguindo transmitir uma vulnerabilidade avassaladora, enquanto Kodi Smit-McPhee e Eric Bana completam o elenco com interpretações igualmente marcantes.

E, claro, há os Óscares. Memoir of a Snail foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação, sendo a segunda vez que um filme de animação em stop-motion classificado para maiores de 18 anos recebe tal nomeação, após Anomalisa em 2015.
Se estás à procura de um filme para animar o dia, foge deste como um caracol foge do sal. Mas se queres uma experiência tocante e inesquecível, então Memoir of a Snail é um daqueles filmes que, mesmo esmagando o coração, vale a pena ver.