Quando a voz grave de Marcus Brown se ergue em The Passionate Ones, sentimos que estamos perante mais do que um disco, mas uma confissão eléctrica lançada a partir do subsolo da alma. O seu segundo trabalho editado pela XL Recordings — gravado entre Baltimore, Londres e Nova Iorque — explode os géneros: é post-R&B, mas também indie-pop funky, electro-soul e até pop de culto improvisado que sacode o sistema com ritmo e charme.
Cada faixa carrega a urgência de existirem. “Max Potential”, com os seus sintetizadores diáfanos e guitarras que parecem querer rasgar o céu, é um mantra de entrega total: “If I’m gonna go insane, at least I’m loved by you” soa como um grito que se transforma em cântico rebelde. É a paixão a arder, encarnada na música.
Mas há também espaço para a ternura amarga: em canções como “9 2 5“, Brown capta a fadiga existencial do dia-a-dia com tanta delicadeza como revolta. A batida, remetendo ao club de Baltimore, é o pulso de quem trabalha de dia e sonha de noite, tentando não desistir. É uma carta carregada de esperança sombria: “You won’t always be here” soa a promessa e aviso simultaneamente.
No meio de tudo isso, há humor cortante e crítica social. “Baby Baby” manda um recado potente e irónico sobre consumo e violência, com linhas que alertam: “if you can bomb Palestine, you can bomb Mondawmin”. É a burrice sedutora da distração, embalada numa batida moderna e sarcástica.
Mas o resultado é isto tudo: um disco que pulsa com a ambição de querer sentir a vida — amor, fúria, exaustão, revolta —, sem fugir da complexidade emocional e política dos nossos tempos. The Passionate Ones é um disco intenso, sarcástico, visceral e generoso — uma ode à sinceridade radical num mundo anestesiado. O álbum já arredondou críticas com acenos que apontam para um reconhecimento quase unânime, posição de destaque nos top de 2025.
