Óscares 2025: a vitória do cinema independente com Anora

Eduardo Marino

O cinema indie americano está bem e recomenda-se. Anora conquistou cinco Óscares nas categorias principais.

Anora, uma comédia dramática sobre uma jovem stripper que se casa com um mimado herdeiro russo, foi o grande vencedor da noite da 97ª edição dos Óscares. Este filme independente, que já tinha conquistado a Palma de Ouro do Festival de Cannes, surpreendeu ao arrecadar cinco estatuetas, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador para Sean Baker e Melhor Atriz para Mikey Madison (totalmente merecido, diga-se, para enorme deceção da favorita Demi Moore).  

Sean Baker foi finalmente reconhecido pela Academia, levando para casa quatro Óscares: Melhor Realizador, Melhor Argumento Original, Melhor Montagem e Melhor Filme.

Apesar de tudo, descontando os anos de pandemia (2020 e 2021), Anora torna-se o filme com menor bilheteira a vencer o prémio principal da noite. Desde a sua estreia nos cinemas, em outubro, arrecadou apenas 15,6 milhões de dólares. Como comparação, o vencedor do Óscar de Melhor Filme do ano passado, Oppenheimer, ultrapassou os 300 milhões de dólares. Pode ser que esta vitória lhe traga mais espectadores, agora.

Apesar de não ter alcançado o sucesso esperado, The Brutalist garantiu três Óscares, incluindo Melhor Ator para Adrien Brody (repetente, depois da vitória em 2003 por O Pianista). No seu discurso, Brody enfatizou a importância de aprender com os erros do passado e destacou o valor da família e do respeito na sociedade atual.

Na contagem final, Dune: Part Two (Efeitos Visuais, Som), Emília Perez (Melhor Atriz Secundária, Canção Original) e Wicked (Direção de Arte, Guarda-Roupa), levaram, cada um dois Óscares para casa.

Nas categorias de atores secundários, Zoe Saldaña foi distinguida como Melhor Atriz Secundária pelo seu papel em Emilia Pérez. Orgulhosa das suas raízes, e muito emocionada, homenageou a avó e os pais imigrantes da República Dominicana. “Sou a primeira americana de origem dominicana a receber um Óscar. E sei que não serei a última”, gritou.

Kieran Culkin, vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário por A Real Pain, teve o discurso mais bem-humorado e pouco ortodoxo da noite. Depois dos agradecimentos habituais, dirigiu-se à sua esposa, relembrando uma promessa que ela lhe fizera anteriormente: teriam mais filhos se ele vencesse um Emmy e um Óscar. Com o prémio nas mãos, Culkin brincou sobre expandirem a família para quatro filhos, dizendo: “Let’s get crackin’” (Vamos a isso!).

O prémio de Melhor Filme Internacional foi para Ainda Estou Aqui, marcando uma conquista significativa para o cinema brasileiro. o Brasil já tinha sido nomeado quatro vezes ao Óscar, mas sem nunca vencer. Esta vitória tem um sabor a vitória na Copa do Mundo, num país que já estava em clima de festa com o Carnaval.

Na categoria de Melhor Filme de Animação, Flow deu à Lituânia a sua primeira vitória, destacando a crescente diversidade dos membros da Academia. Foi o reconhecimento de um underdog. Esta história comovente de um gato à deriva, teve um orçamento de 3,5 milhões de euros, enquanto, em comparação, Inside Out 2 custou mais de 150 milhões a produzir.

No Other Land, filme sobre a ocupação israelita na Cisjordânia, foi distinguido com o prémio de Melhor Documentário. Os co-realizadores, o palestiniano Basel Adra e o israelita Yuval Abraham, aproveitaram o palco para um discurso político impactante, sublinhando a urgência de uma solução justa para o conflito israelo-palestiniano. “Justamente o contrário do que se passa atualmente”, sublinharam, mandando a farpa à forma como o atual governo americano está a lidar com a situação.

Esta edição teve, pela primeira vez, como apresentador Conan’O Brien, que não desiludiu com o seu humor característico, e manteve um registo leve e divertido que trouxe uma nova energia ao evento. A abertura, com a paródia a The Substance foi particularmente bem-conseguida.

Partilha

TAGS