Há algo de deliciosamente desconcertante no novo álbum dos Sports Team. Conhecidos pelas suas raízes no indie rock e espírito irreverente pós-punk, a banda britânica troca agora a adrenalina crua dos primeiros discos por uma sofisticação inesperada e, até certo ponto, deliberadamente excêntrica. Boys These Days é o reflexo de uma banda que cresceu, mas não perdeu o gosto pelo sarcasmo. Mas aprendeu a disfarçá-lo melhor.
Logo no arranque, “I’m in Love (Subaru)” aponta uma nova direção: guitarras mais limpas, sintetizadores a evocar os anos 80 e um solo digno de um disco soft-rock de vinil gasto. A canção soa a Prefab Sprout a flertar com Pet Shop Boys, tudo sob um pano de fundo que lembra os dramas suburbanos de uma novela inglesa. O espírito nostálgico estende-se por temas como “Sensible” e “Condensation”, onde os arranjos de metais e teclados conferem ao álbum uma textura pop que parece colada aos tempos de Bowie em Let’s Dance ou aos momentos mais teatrais de Dexys Midnight Runners.
Mas se a sonoridade se expandiu, o sarcasmo mordaz de Alex Rice mantém-se intacto. A faixa-título, “Boys These Days”, é um hino geracional que ironiza o tédio pós-millennial, as crises existenciais da geração da internet, o culto ao bem-estar e à produtividade. “Now it’s all vaping and porn”, canta-se com desprezo cínico — como se Jarvis Cocker tivesse acordado numa ressaca provocada por excesso de TikTok. Esta tensão entre a crítica social e o nonsense calculado é o verdadeiro cerne do disco.
“Bang Bang Bang”, uma das faixas mais ousadas, aborda com humor negro a violência armada nos EUA, misturando denúncia e absurdo com um refrão que se cola à memória. Há aqui uma premonição quase profética, considerando que a própria banda foi vítima de um assalto à mão armada em São Francisco pouco depois do lançamento do disco — ironia trágica que reforça a tensão constante entre o palco e o mundo real. Em “Maybe When We’re Thirty”, que encerra o disco, os Sports Team fazem o inventário da vida adulta com uma crónica ácida: casa, cão, Facebook, piadas recicladas do Daily Mail. O tom é simultaneamente autoirónico e resignado, como quem sabe que já entrou no jogo do conformismo, mas continua a fazer troça das regras.
Apesar da mudança sonora ser arrojada, ela é muito bem executada. Eles trocam o fogo do garage rock pela subtileza da pop orquestrada o que poderia significar perder, ocasionalmente, o impacto imediato, mas que aqui nem nos vem à memória. Boys These Days é um disco coeso, cínico e inteligentemente polido. Os Sports Team mantêm a língua afiada, mas aprendem a vestir fato e gravata para esconder a provocação. Continuam desafiadores, mas agora num palco mais amplo, com saxofones, arranjos grandiosos e um pé firme no legado dos anos 80. É uma reinvenção que soa a maturidade e ambição, sem nunca perder a alma festiva.