‘The Bends’ – O primeiro salto para a eternidade dos Radiohead fez 30 anos.

Francisco Pereira

O segundo disco dos Radiohead marcou a necessidade constante da banda de estar sempre a elevar a fasquia.

Lançado a 13 de março de 1995, The Bends marcou uma evolução significativa na sonoridade dos Radiohead, afastando-se do grunge de Pablo Honey e incorporando elementos mais complexos e atmosféricos. Se Pablo Honey os fez conhecidos (principalmente por causa de “Creep”), foi The Bends que provou que eles eram muito mais do que isso. Este álbum trouxe uma identidade própria e colocou-os no caminho para se tornarem numa das bandas mais inovadoras da história do rock.

Com a estreia, em 1993, com Pablo Honey, os Radiohead conseguiram encontrar a porta de entrada dos anais da história do rock, aproximando-se de bandas como os Nirvana ou os Pixies, graças à forte influência do grunge e do rock alternativo da época. O álbum teve um impacto muito grande, notavelmente a reboque de “Creep” mas também devem ser destacadas “You”, que é uma abertura energética e cheia de guitarras vibrantes, “Anyone Can Play Guitar”, um hino irónico sobre a busca pelo estrelato ou “Thinking About You”, um momento mais íntimo e acústico, que destaca a vulnerabilidade de Yorke.

Mas com Pablo Honey, e apesar da inegável qualidade do álbum como um todo, os Radiohead eram considerados como uma banda britânica dos anos 90, como as outras. The Bends tornou-se numa necessidade inconsciente de provar que não eram apenas “a banda do Creep”. Para apresentar um sucessor, os Radiohead tiveram de elevar a fasquia sob pena de não saírem deste estigma de serem “apenas” mais uns. E The Bends mostrou que tinham profundidade, tanto musicalmente quanto liricamente. As guitarras de Jonny Greenwood tornaram-se mais expressivas, e a voz de Thom Yorke começou a explorar tons mais melancólicos e etéreos. Foi esta combinação de angústia existencial e melodias sofisticadas que abriu caminho para o terceiro capítulo, OK Computer (1997), que consolidaria o status da banda como vanguardista do rock alternativo.

O álbum teve boas críticas, mas o impacto foi gradual. “Fake Plastic Trees”, por exemplo, foi um divisor de águas: contam que Thom Yorke chorou ao gravá-la, e a canção virou um hino para quem sentia que o mundo se estava a tornar artificial demais. Mas acabou por se tornar numa das baladas mais icónicas da banda. Começa de forma minimalista e cresce em intensidade, com uma interpretação vocal cheia de emoção. A letra fala sobre superficialidade e alienação, um tema que se tornou recorrente na discografia da banda.

“High and Dry” é outra introspeção que nos toca como um dos momentos mais íntimos do disco, com uma melodia delicada e uma instrumentalização mais suave. No lado oposto encontramos “Just” que é uma das músicas mais complexas e energéticas do álbum, com mudanças de acordes imprevisíveis e um refrão quase caótico. O instrumental é um dos mais técnicos do disco, e a letra parece brincar com um tom enigmático e desafiador.

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A faixa-título apresenta-nos riffs de guitarra arrepiantes e uma entrega vocal intensa de Yorke. A letra carrega um tom de frustração e desorientação e reforça o tema do álbum sobre os desafios da ascensão e da fama. Essas distorções de guitarra são ainda mais evidentes em “My Iron Lung, com mudanças dinâmicas e bruscas e uma estrutura não convencional que resulta num clima angustiante. O disco encerra de forma perfeita com uma melodia hipnótica e uma das letras mais sombrias do álbum. “Street Spirit (Fade Out)” mostra-nos uma sensação de inevitabilidade e fatalismo. E tudo começa com “Planet Telex” que nos apresenta uma abertura atmosférica e envolvente, com camadas de guitarra musculadas, como que dando o aviso de que este álbum seria muito mais ambicioso do que seu antecessor.

Com o passar dos anos, The Bends foi ganhando mais reconhecimento e hoje é considerado como um dos melhores álbuns dos anos 90. Estabeleceu as bases e o caminho de inovação que os Radiohead cunharam.

Sem The Bends, OK Computer não existiria tal como o conhecemos. Foi o álbum que deu aos britânicos a liberdade para experimentar e assumir riscos. Sem ele, dificilmente teriam seguido o caminho do rock progressivo, do eletrónico e das texturas abstratas que caracterizam os seus trabalhos posteriores. Muitas bandas que vieram depois, como os Coldplay, Muse, Travis, ou Keane, por exemplo, vieram beber da sonoridade de The Bends.

Resumindo, The Bends foi o disco que transformou os Radiohead de “apenas mais uma banda britânica dos anos 90” em artistas inovadores e experimentais. Se OK Computer foi a revolução, The Bends foi o primeiro grande salto para a eternidade.