The Black Keys – No Rain, No Flowers (2025)

Francisco Pereira

Crítica a *No Rain, No Flowers*, o novo álbum dos The Black Keys, que mistura pop, soul e funk após um ano turbulento para a banda.

Depois de uma temporada meio perdida com o álbum Ohio Players e um tour cancelado, que culminou numa ruptura aberta com a gestão, os The Black Keys regressam com o seu 13.º longa-duração, No Rain, No Flowers, lançado a 8 de agosto de 2025. Este disco surge como uma espécie de reacção: um reflexo sonoro daquele ano turbulento, com a dupla — Dan Auerbach e Patrick Carney — a canalizar frustração e expectativa numa proposta mais polida e ensolarada, mas sem abandonar totalmente as raízes que os acarretaram até aqui.

Gravado no estúdio Easy Eye Sound, em Nashville, o disco assinala um regresso ao ritmo criativo rápido — é já o quarto álbum nos últimos cinco anos. Desta vez, apostaram em colaborações com nomes consagrados da escrita pop, como Rick Nowels, Daniel Tashian e Scott Storch — uma mudança clara na abordagem criativa, centrada em melodias trabalhadas e arranjos sofisticados.

Musicalmente, No Rain, No Flowers desliza por territórios de pop com influências de soul, funk e disco, deixando o blues-rock cru um pouco de lado. As faixas transitam suavemente entre grooves confortáveis e refrãos cativantes, quase como se estivessem pensadas para se infiltrar nos ouvidos sem exigir muita atenção — um disco agradavelmente radiofónico, mas que, por vezes, estranha a aura de ousadia que marcou os seus melhores momentos.

Apostas como “Babygirl” e “Make You Mine” evidenciam essa viragem: funk claro, teclas em destaque e arranjos que evocam o sabor retro com um toque contemporâneo. Ao mesmo tempo, há melodias mais introspectivas, indie-pop ou soul psicadélico, com destaque para a última faixa, “Neon Moon”, que flutua num ambiente quase etéreo e poético.

Contextualizando no percurso da dupla, No Rain, No Flowers nasce numa fase de renovação — depois de um ano difícil, a ideia parece ter sido reagir sem perder o brilho, apostando em melodias e produção refinadas, enquanto se mantêm algumas réstias da alma que os definiu desde os tempos de Thickfreakness. O título, inspirado numa expressão que ilustra como a adversidade pode gerar flor — ou seja, dificuldade que gera crescimento — reflete bem esse espírito de recuperação e amadurecimento.

Em resumo, No Rain, No Flowers é um álbum inesperadamente solarengo, eficaz sem ser evangelista, divertido sem ser raso. É uma espécie de passeio descomplicado ouvido ao longe, tão agradável quanto resistente — um testemunho de que, mesmo enfrentando tempestades, os Black Keys continuam a encontrar solos de céu aberto, ainda que com um sorriso menos ferido.