Rarely Do I Dream, o mais recente trabalho de Trevor Powers sob o nome Youth Lagoon, é um álbum que navega entre a nostalgia e a reinvenção, mergulhando nas memórias da infância sem se afogar em melancolia. Inspirado por gravações caseiras encontradas na casa dos pais, o disco é uma tapeçaria de momentos íntimos, sonhos desfocados e histórias de uma América mítica, tudo envolto numa produção sonora que é, ao mesmo tempo, diversa e coesa.
Powers já nos habituou a uma certa fragilidade vocal e a uma estética de bedroom pop, mas aqui ele expande o seu leque sonoro com sintetizadores difusos, guitarras mergulhadas em reverb e linhas de baixo grooveadas. Se Heaven Is a Junkyard (2023) era uma tapeçaria serena e atmosférica, Rarely Do I Dream é mais dinâmico, alternando entre explosões distorcidas (como em “Perfect World”) e momentos de delicadeza quase flutuante (como “My Beautiful Girl”). A inclusão de excertos das gravações familiares confere uma camada de realismo emocional, como se estivéssemos a espreitar os álbuns de fotos sonoros de Powers.
No entanto, nem tudo é perfeito. Apesar da riqueza instrumental, há momentos em que a experimentação soa mais a dispersão do que a evolução. “Speed Freak”, por exemplo, com o seu synth implacável, pode ser um choque brusco no fluxo do álbum. E, por mais cativantes que sejam as memórias de infância, há quem possa achar que o conceito, por si só, não sustenta totalmente a narrativa do disco — algumas faixas parecem mais esboços de ambientes do que canções totalmente realizadas.
Mas após várias audições concluímos que os momentos altos são verdadeiramente brilhantes. “Lucy Takes a Picture” é uma pérola melancólica que equilibra esperança e dor com uma maestria rara, enquanto “Gumshoe (Dracula From Arkansas)” tem um clímax tão expansivo que evoca os melhores momentos dos Postal Service. E o fecho, “Home Movies (1989-1993)”, é um soco no estômago emocional — um lembrete de que, por mais que a vida seja feita de desvios e quedas, há beleza no que ficou para trás.
Em resumo, Rarely Do I Dream é um disco sobre a passagem do tempo, mas também sobre a capacidade de olhar para trás sem se perder no passado. Powers não está preso à saudade; em vez disso, usa-a como combustível para criar algo novo. Este é, sem dúvida, um dos trabalhos mais humanos e comoventes do catálogo de Youth Lagoon. E, no meio de tanta música descartável, isso já é algo raro.