Há vozes que parecem conter dentro de si uma estrada inteira — com poeira, névoa e horizonte. A de Afonso Rodrigues é uma delas. Durante quase duas décadas ao leme dos Sean Riley & The Slowriders, foi uma das figuras centrais da renovação da música portuguesa do século XXI, guiando a banda por um território de melancolia luminosa e canções que soavam tanto a deserto americano como a madrugada alentejana. Dos primeiros acordes lo-fi de Farewell às paisagens mais densas e cinematográficas de Sean Riley & The Slowriders (2016), Afonso construiu um universo sonoro que unia a tradição do folk e do rock a uma sensibilidade intimista e profundamente emocional.
Em paralelo, deu também voz aos Keep Razors Sharp, coletivo onde a eletrónica e o psicadelismo ganharam terreno, mostrando um lado mais experimental e hipnótico do seu talento.
Depois de um longo silêncio, decidiu dar o passo que há muito parecia inevitável: o da afirmação em nome próprio. O seu álbum de estreia a solo, Areia Branca, lançado este ano, é mais do que uma extensão natural da sua obra — é uma revelação. Nele, a escrita de Afonso ganha uma proximidade quase confessional, as melodias respiram com uma nova leveza e a produção, depurada e cuidada, deixa espaço para que a voz — essa voz serena, rouca e precisa — se torne o verdadeiro centro da narrativa. Há um equilíbrio novo entre o que é pessoal e o que é universal, entre o folk e a pop, entre o silêncio e a palavra.
Agora, na véspera de apresentar o disco ao vivo, a 30 de outubro, na Casa Capitão, em Lisboa, Afonso Rodrigues prepara-se para reencontrar o público com a calma de quem sabe que o tempo é o seu maior aliado. Este concerto promete convidados especiais, como Benjamim, Valter Lobo ou Catarina Salinas. Uma noite para redescobrir um músico que sempre nos habituou à contenção, à beleza discreta e à força silenciosa das canções que não precisam de gritar para ficar connosco muito tempo depois de terminarem.
1. José Afonso
Eu Vou Ser Como a Toupeira (1972)
 
															“A Morte Saiu à Rua” foi uma música que teve um impacto muito grande na minha vida. Antes de descobrir essa música ouvia Zeca quando o meu pai punha a tocar, mas a partir daí tudo mudou.
2. Nirvana
Nevermind (1991)
 
															O Kurt Cobain foi um dos meus primeiros super heróis preferidos. O som, as palavras, o cabelo, a roupa, tudo fazia sentido. Eu e uns quantos amigos éramos todos discípulos. Além da discografia oficial tive mais de 30 bootlegs.
3. Mão Morta
Revisitada (1995)
 
															Provavelmente o meu disco preferido da, provavelmente, minha banda portuguesa preferida. Foi a primeira vez que ouvi coisas em português com as quais me identificava sem ser cantautores de há muitos anos atrás.
4. Spiritualized
Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space (1997)
 
															O Jason Pierce foi talvez o meu segundo super herói. A sensibilidade, a beleza, a fragilidade, a simplicidade, a estética refinada, a descendência directa do Lou Reed, do Bob Dylan… a lista é infinita. Este disco marcou-me como pouco e definiu a minha relação com a música a partir daí.
5. 50 Cent
Get Rich or Die Tryin' (2003)
 
															Sempre ouvi muito Rap, do primeiro do Bellini (Regula) ao último do Tyler The Creator, oiço tudo o que posso. Este foi provavelmente o disco de rap que mais vezes ouvi até hoje.
6. Bob Dylan
No Direction Home Bootleg Volume 7 (2005)
 
															Quase impossível escolher um disco, para mim. Amo os primeiros 10, o Blood On the Tracks é dos meus discos de sempre, mas escolhi este porque é a banda sonora do melhor documentário que já vi de música e tem muitas das minhas preferidas em atuações memoráveis.
7. Heavy Trash
Heavy Trash (2005)
 
															Sempre fui grande fã de rockabilly, rock and roll, punk… Este disco funde todos esses estilos de forma absolutamente perfeita e natural. O Matt Verta-Ray (Speedball Baby) é um dos meus guitarristas preferidos e com este disco apanhou-me no momento certo da minha vida.
8. B Fachada
B Fachada (2011)
 
															Este disco é lindo. Gosto de o ouvir a conduzir e tenho memórias de muitos sítios diferentes com ele. Foi muito importante na minha reaproximação a cantautores em português mais recentes – na altura – influências essas que viriam a ser todas importantes na construção do meu próprio disco em português.
9. Pascal Roge
3 Gymnopédies & Other Piano Works (1987)
 
															Ando obcecado com o Erik Satie. Para acordar, conduzir, contemplar. É de uma beleza extraordinariamente enigmática.
10. Miles Davis
Kind of Blue (1959)
 
															Para quando não há interesse em escutar palavras. Miles, Coltrane, Cannonball, Bill Evans...
 
								 
															









