No dia 25 de julho, o palco do Musicbox, em Lisboa, recebe os Nunca Mates o Mandarim, um dos segredos mais bem guardados da música alternativa portuguesa e que desde o seu recente concerto no Festival Primavera Sound, passaram a estar nas bocas de todo o mundo. Com guitarras densas, electrónica crua e ritmos imprevisíveis, o trio tem vindo a construir um percurso singular e desafiante, onde a palavra é arma e bússola.
Em antecipação ao concerto, os três membros da banda — João Amorim, João Campello e Manel Dinis — partilharam uma lista de 18 álbuns essenciais. São seis discos escolhidos por cada um, como que um mapa emocional e criativo daquilo que os moldou enquanto ouvintes, criadores e performers.
Este concerto não é apenas uma apresentação ao vivo — é uma extensão dessas referências, um reflexo direto das músicas que os inspiraram a criar as suas.
1. Jorge Palma
Só (1991)
Escolha de João Amorim

Palma é a única referência 100% alinhada entre nós os três, por isso tinha de começar por ele. Para mim, a melhor caneta na música portuguesa, sempre entre o mainstream e a margem – cresci a ouvir este disco e continuo a encontrar algo de novo sempre que pego nele.
2. Marisa Monte
Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000)
Escolha de João Amorim

Mais um disco que cresci a ouvir. Sem pretensões de grandeza, há um paralelismo interessante (ou uma dose saudável de inspiração) entre nós e a música “Amor I Love You”: o nome da nossa banda advém d’O Mandarim do Eça e a música de Marisa Monte contém um trecho d’O Primo Basílio. Por “coincidência”, o nosso recente single “Dominó” também se inspirou parcialmente nesse livro.
3. Arctic Monkeys
Humbug (2009)
Escolha de João Amorim

Em qualquer outro dia, teria escolhido o debut deles – que, aliás, contém “Riot Van”, a música que me fez verdadeiramente gostar de música – mas, ultimamente, tenho pegado mais vezes no seu irmão mais maduro, cujo lançamento coincide com a altura em que os comecei a ouvir e a desenvolver um gosto musical mais próprio.
4. The National
Trouble Will Find Me (2011)
Escolha de João Amorim

É sempre um enorme esforço de contenção escrever uma lista destas, mas escolho um álbum que me acompanhou desde novo e que tive o prazer de ver tocado, em boa parte, ao vivo: em 2014, foi o primeiro grande concerto em festival que vi, o que poderá ter despertado em mim um certo espírito festivaleiro. Foi uma sensação muito gratificante pisar esse mesmo palco enquanto artista, no Primavera Sound deste ano.
5. Frank Ocean
Blonde (2016)
Escolha de João Amorim

Os heartbreaks são, famosamente, um dos maiores desbloqueadores da expressão artística que o Homem alguma vez se lembrou de inventar. Este disco não só é a definição de um heartbreak, como acompanhou o meu primeiro. Para além de ter marcado a minha adolescência, atiçou o meu primeiro esforço minimamente sério na escrita de canções (ainda que em inglês). Apesar de já não ouvir estas músicas com tanta frequência como dantes, continuo desejoso de nova música do eternamente evasivo Frank Ocean.
6. Clairo
Charm (2024)
Escolha de João Amorim

Quis incluir um projeto mais recente nesta lista e estava indeciso entre o último de Nilüfer Yanya ou King Krule, qualquer um dos Fontaines D.C. (que deixo como menções honrosas) ou este. Charm tem tido airplay constante cá em casa no último ano – aliás, já dei por mim, várias vezes, a ouvi-lo em loop sem reparar. Para além disso, ou quiçá devido a essa alta rodagem, talvez esteja a desenvolver uma crush inatingível pela Clairo. Pode-se dizer que o charme resultou (desculpem)…
7. David Bowie
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972)
Escolha de João Campello

Um álbum que me abriu portas à música, através do meu pai. Faixas psicadélicas, letras ainda atuais (seja uma qualidade do álbum ou falta dela no nosso panorama atual). Belas instrumentações, ricas e cheias de harmonia. Um disco dos anos 70, cheio de altos e baixos dinâmicos e que culmina num clímax.
8. Parcels
Live Vol.1 (2020)
Escolha de João Campello

Este álbum é das mais belas formas de arte. Um álbum totalmente live, onde mostra a qualidade técnica dos músicos presentes. De notar que os erros cometidos se mantêm e podem até ser percecionados como encorajados. Este álbum é daqueles que tem as músicas todas ligadas e dos poucos onde isso funciona. Uma mistura de funk e soul, músicas extraordinárias e muito bem trabalhadas. Dos melhores álbuns da década.
9. Pink Floyd
The Dark Side of the Moon (1973)
Escolha de João Campello

Um disco que dispensa apresentações. Um autêntico clássico. Neste LP está presente a minha primeira memória musical. Repleto de psicadelismos, ótimas produções, trabalhadas com afinco. Músicos de extrema qualidade; este disco conseguiu-se facilmente afirmar para mim como um top 3. Guitarras com reverb, linhas de baixo marcantes, solos de sax únicos e baterias simples e sólidas. O meu gosto para ouvir de noite!
10. Foals
Holy Fire (2013)
Escolha de João Campello

Este disco é para mim o melhor disco do conjunto. Conheci esta banda (e disco) num concerto emitido pela RTP1 no (na altura) Optimus Alive. O rock (pseudo) progressivo está claramente neste disco; desde grandes breaks de bateria, vozes quase inaudíveis e bonitas baladas. Com este disco comecei a aprender o que era música boa (um conceito com o qual já não me relaciono atualmente).
11. Maro
Hortelã (2023)
Escolha de João Campello

Hortelã da Maro foi um álbum que tive de ouvir por “obrigação”. Era a referência para um trabalho de mistura; E que trabalho! Deu-me a conhecer tal obra de arte! Um disco limpinho, com letras do outro mundo, este disco (apenas com 3 guitarras e uma voz) é de tal maneira belo que não há muitas palavras para o descrever.
12. Pedro Abrunhosa e os Bandemónio
Viagens (1994)
Escolha de João Campello

Definição de cool. Para mim, o melhor disco da música portuguesa (por pouco, porque temos, no nosso país, belíssimos discos). Um LP bass oriented, cheio de energia, funk e algum rock pelo meio. Letras verdadeiras e eróticas. Falando pelas ruelas do Porto (e Europa). Uma precisão enorme na produção. Todos os elementos estão onde deviam estar, não há nada de errado neste disco!
13. The Beatles
Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967)
Escolha de Manel Dinis

Os Beatles são a minha maior referência na música. Escolher entre Revolver, o “Álbum Branco”, Abbey Road é difícil – no entanto este álbum terá de ser a minha escolha, também pelo seu peso no panorama musical. Este álbum inspirou vários artistas e produtores, desde o nível composicional ao nível sonoro. A 1ª música abre logo o precedente, dando o nome ao álbum – embora o som nos possa parecer mais comum hoje em dia, a verdade é que na época foi uma das músicas pioneiras desse tipo de sonoridade, especialmente para uma audiência mais generalizada. A última música “A Day in the Life”, é uma das músicas que mais tenho em consideração, pessoalmente. Adoro os Beatles.
14. Bill Evans Trio
Waltz For Debby (1962)
Escolha de Manel Dinis

Mudando de género, para o jazz, que também é uma das minhas grandes paixões, deparamo-nos de frente com o Bill Evans. Este pianista é dos meus artistas favoritos. A sua subtileza e forma de expressão no piano são únicas. Já para não falar da sua qualidade técnica, claro. O que gosto mais neste álbum é o facto de ser gravado ao vivo, num bar, onde o som de copos, público a rir, falar, tossir – todo este ambiente está presente. Adoro o Trio do Bill Evans (Scott LaFaro e Paul Motian), pois todos tocam na consciência uns dos outros: todos têm os seus solos, todos se complementam, todos se encaixam perfeitamente.
15. John Mayer
Room For Squares (2001)
Escolha de Manel Dinis

Embora não seja o álbum que mais ouço deste artista, este foi a minha introdução ao mesmo; ouvi este álbum exatamente quando precisava de o ouvir. Por isso terei sempre uma relação especial com ele. Influenciou a minha forma de tocar guitarra, de escrever, o meu som de guitarra. O John Mayer é dos meus guitarristas de referência, no qual me inspiro muito. Este álbum, no fundo, retrata isso.
16. Mild High Club
Skiptracing (2016)
Escolha de Manel Dinis

Este álbum é incrível. Desde as minhas raízes a ouvir música indie, com o 2, do Mac DeMarco, esta banda foi descoberta por mim através Youtube, como muitas outras. Neste caso, gostei tanto que comprei os seus discos em vinil. Este álbum tem composições super originais, num tema meio de “detetive” ou mistério; o som dos instrumentos eletrónicos utilizados, o trabalho de mix e design de som – é um álbum com transições entre músicas – onde parece haver uma narrativa contínua. É mesmo muito bom. (Sim, a voz dele é muito peculiar).
17. Lenny Kravitz
Mama Said (1991)
Escolha de Manel Dinis

Ouvi com “ouvidos de ouvir” este álbum pela primeira vez há pouco tempo. Sinto que está um pouco à frente do seu tempo. Este é dos meus álbuns favoritos não só pelas composições, pelos vários géneros musicais que estão presentes, pela qualidade de execução instrumental; mas também a nível pessoal. Este álbum conectou comigo e representa toda uma altura da minha vida. Não podia deixar de o incluir na minha lista de álbuns favoritos.
18. Masayoshi Takanaka
Seychelles (1976)
Escolha de Manel Dinis

Voltando a um lado mais “guitarrístico”, este álbum foi uma descoberta recente e inspiradora. Toda a estética do álbum, desde a capa até aos sons de guitarra – agarraram-me. É música sem voz em bastantes casos, mas que fala por si. Ele fala com a guitarra. Super boa vibe e super destreza técnica – é um artista que sabe equilibrar tocar coisas simples e complexas, de forma a criar uma linguagem percetível e com nexo. E mesmo o que toca que é simples, toca de forma expressiva.