Depois de uma década a incendiar palcos e a redefinir os limites do rock independente português, os Sunflowers preparam-se para lançar um novo disco — o sucessor de A Strange Feeling of Existential Angst chama-se You Have Fallen… Congratulations! e promete levar a sua sonoridade ainda mais longe. O power trio do Porto, composto por Carlos de Jesus, Carolina Brandão e Frederico Ferreira, regressa com a mesma fúria criativa que os tem distinguido desde o início, mas agora com uma maturidade sonora que reflete anos de estrada, ruído e reinvenção. À medida que se aproximam do lançamento, a banda aceitou o desafio de revisitar as raízes que moldaram o seu percurso, mergulhando nos discos que mais os influenciaram — obras que ajudaram a definir o que hoje conhecemos como o som característico dos Sunflowers.
O trio abre o baú da sua formação musical e partilha as peças fundamentais da sua identidade artística. São discos que marcaram épocas, estilos e momentos pessoais, mas também revelam a alquimia sonora por trás do psicadelismo abrasivo e da energia caótica que caracterizam a banda. Entre clássicos do rock, experimentações punk e desvios cósmicos pelo noise e pelo art rock, percebe-se como as referências se misturam e se deformam, ganhando nova vida nas mãos dos Sunflowers.
You Have Fallen… Congratulations! chega no dia 7 de novembro.
1. Neutral Milk Hotel
In the Aeroplane Over the Sea (1998)
Escolha de Carlos de Jesus
Um disco que soa como se tivesse sido gravado num sonho febril. O lirismo de Jeff Mangum é ao mesmo tempo profundamente íntimo e completamente enigmático, criando imagens que ficam a ecoar muito depois do disco terminar. Foi um dos primeiros álbuns a mostrar-me que a emoção crua pode ter mais peso do que qualquer virtuosismo técnico, e isso é algo que levo para a forma como escrevo música. Talvez dos poucos discos que sei de memória do início ao fim
2. Thee Oh Sees
The Master's Bedroom Is Worth Spending a Night In (2008)
Escolha de Carlos de Jesus
Não podia deixar de ter um disco de Oh Sees. Podia ter escolhido muitos, mas este tem um lugar especial por ter sido o primeiro disco deles que andou em loop nos meus fones. Energia descontrolada, guitarras afiadas e um caos que é, paradoxalmente, meticulosamente construído. Este disco é um manual sobre como canalizar urgência sem perder melodia. É impossível ouvir e não sentir vontade de pegar na guitarra logo a seguir.
3. Cornelius
Fantasma (1998)
Escolha de Carlos de Jesus
Um mosaico sonoro que mistura pop psicadélico, colagens e experimentação quase infantil. É daqueles discos que abrem portas na cabeça para novas formas de pensar a música, e foi isso que fez comigo, principalmente na hora de misturar. Cada vez que o ouço, a viagem é diferente.
4. Black Flag
My War (1984)
Escolha de Carlos de Jesus
O lado A é hardcore puro. O lado B é um arrastar lento e sufocante. Este contraste extremo mostrou-nos que quebrar expectativas é uma das formas mais poderosas de deixar marca. Também é um lembrete de que o desconforto pode ser arte. O Greg Ginn é talvez a minha maior influência a tocar guitarra, e este disco é um exemplo perfeito disso.
5. Dead Kennedys
Fresh Fruit for Rotting Vegetables (1980)
Escolha de Carlos de Jesus
Político, ácido e ainda tão actual que chega a ser preocupante. Este disco não só moldou a minha ideia de punk, como também a relação entre música e mensagem, performance e atitude em palco. Punk sem panfletos, mas com ironia e raiva no ponto certo
6. Holy Fuck
Holy Fuck (2005)
Escolha de Carlos de Jesus
A banda sonora perfeita para uma perseguição futurista em ruas pós-apocalípticas. A forma como usam equipamentos improvisados e brinquedos sonoros para criar algo tão intenso é uma lição de criatividade pura. Aspiro a ter 1/4 da imaginação desta banda.
7. The Velvet Underground
Loaded (1970)
Escolha de Carlos de Jesus
Talvez seja controverso, mas sou um sucker por músicas pop, e este é o meu disco favorito deles. Pode ser os Velvet mais “clean”, mas o disco ainda está carregado daquele espírito sujo e urbano que os tornou únicos. É um disco que prova que a simplicidade e a boa canção podem andar de mãos dadas sem perder identidade.
8. Black Moth Super Rainbow
Start A People (2004)
Escolha de Carlos de Jesus
Sintetizadores granulados, melodias doces e um ambiente que parece saído de uma cassete VHS esquecida numa gaveta. Um disco que me inspira a procurar beleza no estranho e no imperfeito. Talvez a banda que mais inspira as canções de Sunflowers mais synth heavy.
9. Deerhoof
Breakup Song (2012)
Escolha de Carlos de Jesus
Ritmos tortos, melodias que ficam no ouvido e uma sensação de alegria caótica. É um lembrete constante de que a liberdade criativa é mais importante do que qualquer fórmula de sucesso. Difícil foi escolher o album deles a inserir nesta lista.
10. Bo Burnham
Inside (2021)
Escolha de Carolina Brandão
Acho que este foi o meu disco mais ouvido em 2021 e desde que ai que está sempre presente na rotação. Adoro tudo nele: que tenha sido feito do inicio ao fim pelo Bo Burnham, as melodias, as letras: histórias sobre ansiedade e desilusão com o mundo não podiam ser mais relatable. Não há uma música que passe à frente, disco 10 em 10.
11. Prince and The Revolution
Purple Rain (1984)
Escolha de Carolina Brandão
“Descobri” este disco depois de ver o filme do qual serve como banda sonora. Foi nessa altura que percebi o mito que se formou à volta do Prince e a sua presença e claro, seguiu-se uma fase enquanto banda que estávamos obcecados com ele. Não posso dizer que conheça muito extensivamente a discografia do Prince mas este álbum em especifico entra nos meus tops pessoais. É uma mistura incrível de rock, funk e pop, repleta do showmanship pelo qual toda a gente conhece o Prince. Adoro que tenha uma presença grande de mulheres na banda The Revolution (Wendy Melvoin e Lisa Coleman) e que combine gravações ao vivo com overdubs em estúdio.
12. Mïngle Härde
Möngöl Hörde (2014)
Escolha de Carolina Brandão
Álbum de harcore punk com letras engraçadas. Quem é que não gosta de uma música hardcore sobre a ténia da Natalie Portman? Entra na lista porque foi extensamente ouvido durante um período de 3/4 anos em que ficava a trabalhar até à noite no escritório a recolher papeladas de contabilidade trimestre a trimestre. 20h da noite num escritório, rodeada de extratos bancários e faturas, com “Möngöl Hörde” a dar aos berros. Fica o cenário criado.
13. The Beatles
Let It Be (1970)
Escolha de Carolina Brandão
Este não é, de todo, o meu disco preferido deles mas foi o que começou a minha longa relação com a banda. Deve ter sido dos primeiros CDs que ouvi do início ao fim (ainda na minha infância) e lembro-me perfeitamente de estar a ouvir a “Get Back” e pensar “esta guitarra é incrível, quem me dera saber tocar!”. Depois disso, encontrei uma guitarra lá por casa e comecei a treinar até ter calos nos dedos. Todos temos que começar nalgum lado!
14. Future of The Left
Travels With Myself and Another (2009)
Escolha de Carolina Brandão
Adoro a produção deste álbum. O som está perfeito para as músicas. Este disco consegue equilibrar altos e baixos musicais com letras fabulosas. É, sem dúvida, uma das minhas inspirações para linhas de bateria.
15. Dead Kennedys
Give Me Convenience or Give Me Death (1987)
Escolha de Carolina Brandão
Compilações também contam, certo? Este é obvio. Dead Kennedys é uma grande influência para Sunflowers e há clássicos que são clássicos porque simplesmente merecem.
16. Herbie Hancock
Head Hunters (1973)
Escolha de Fred Ferreira
Este disco é a definição da palavra “tight”. O que me cativa mais neste disco é a secção rítmica, sincronia total é como ver uma dupla de nadadores a fazer um salto sincronizado, um ser o espelho do outro e receberem pontuação 10/10 no final do salto.
17. Nelly Furtado
Loose (2006)
Escolha de Fred Ferreira
Nelly Furtado? Sim. Timbaland? Sim. Juntos? Sim.
Banger atrás de banger cantados e escritos por uma voz que remete a uma altura da vida em que as únicas preocupações eram jogar à bola, comer panikes de chocolate, beber Freski de laranja e planear que cromos ia roubar no intervalo. Como bom representante da era onde me situava, tinha um MP3 da Creative e este disco todo marcou presença do início ao fim da vida deste dispositivo.
18. My Bloody Valentine
Loveless (1991)
Escolha de Fred Ferreira
Foi a ouvir este disco que senti pela primeira vez que uma guitarra podia soar a tudo menos a uma guitarra. É um disco onde o som deixa de ser apenas som mas sim ambiente, textura e sensação física. E algo que me fascina neste disco é o poder de ambiguidade que ele tem – a mistura entre o doce e o ruído e entre clareza e confusão. Acho fascinante o cerne todo das músicas de mvb ser extremamente doce e frágil mas soarem como se tivesse sido gravadas vezes e vezes sem conta na mesma cassete.
19. John Fahey
The Dance of Death & Other Plantation Favorites (1965)
Escolha de Fred Ferreira
Quando ouvi este disco pela primeira vez, senti como se alguém tivesse aberto uma porta secreta para dentro da música americana, mas de um ângulo estranho e quase fantasmagórico.
Havendo só um instrumento presente neste disco, acaba por me ensinar uma pequena lição sobre como a simplicidade pode comover e como o silêncio entre notas fala tão alto como a música em si.
20. Crazy Frog
Crazy Frog Presents Crazy Hits (2005)
Escolha de Fred Ferreira
Foi o primeiro disco que comprei com o meu dinheiro aka dinheiro dos gelados que a minha avó dava e continuar a dar.
Ouvir este disco, para mim, é uma mistura de nostalgia e puro disparate, quase como revisitar uma memória de infância um bocado embaraçosa mas impossível de não rir. Não é um disco que eu procure pela profundidade musical, mas sim pela leveza com que me transporta para uma altura em que a música era só pura energia. É um disco que me ensina um pouco que a música também pode ser paródia, um espaço para não levar nada a sério e simplesmente deixar o absurdo tomar conta. Sempre que oiço este disco, sinto-me novamente com 8 anos aos saltos em cima do sofá…. Ding Ding.
21. José Afonso
Cantigas do Maio (1971)
Escolha de Fred Ferreira
Para mim, o Cantigas do Maio é mais do que um álbum: é uma experiência que mexe com a memória e a identidade de um país. Sempre que o oiço, sinto como se tivesse a ser transportado para um tempo em que a música não era apenas arte, mas também coragem, esperança e uma forma de combate ao autoritarismo. É como se cada melodia me lembrasse que a liberdade, tantas vezes tomada como garantida, foi conquistada com sacrifício e sonho. O disco acaba por ser uma espécie de abraço coletivo, que ao mesmo tempo faz emocionar e me faz refletir sobre o papel que cada um de nós pode ter na construção de um futuro mais justo, que pode ir do pequeno gesto para com o vizinho ao coletivo que faz a comunidade acontecer.










