Mr. Gallini é o alter-ego de Bruno Monteiro, músico de Leiria que até há bem pouco tempo era o baterista dos Stone Dead.
Em 2018 estreou uma trilogia de álbuns, com o lançamento nesse ano de Lovely Demos e um ano depois de The Organist. No final de julho, Mr. Gallini completou esta trilogia com o lançamento do seu primeiro álbum exclusivamente em português, chamado Já Nínguem Vai Mudar o Mundo.
Neste seu novo trabalho, o artista oferece-nos uma viagem às suas influências bem presentes do punk, rock, mas também pop e bossa nova. Bruno Monteiro escolheu 8 discos que o trouxeram até aqui e o ajudaram a compôr o seu novo disco.
1. Vários
Space Echo - The Mystery Behind the Cosmic Sound of Cabo Verde Finally Revealed! (Analog Africa Nr. 20) (2016)

Um cargueiro cheio de sintetizadores e teclados modernos, misteriosamente deu à costa numa das ilhas mais pobres de Cabo Verde, em 1968? A história é tão boa quanto a música deste disco, que compila alguns dos meus compositores favoritos, no momento mais importante da fusão da música tradicional cabo-verdiana com a estética retro-futurista destes sintetizadores analógicos. Passei muitas manhãs a ouvi-lo antes de começar a compor este disco.
2. Gal Costa
Gal Costa (1969)

Gal Costa é a minha crush de sempre. Apesar de ela ser fogo constante, neste disco ainda vamos a tempo de encontrar umas pitadas de inocência que me derrete sempre. Das baladas, aos sambas, até aos arranjos mais funky rock’n’roll, neste disco encontro um mix eclético tropical delicioso, que me inspirou na escolha de muitas das estéticas do meu último álbum.
3. Sababa 5
Nadir (2025)

Este foi o álbum que ouvi mais durante as viagens noturnas entre casa e o estúdio durante as gravações do disco. Eu adoro os Sababa 5 com ou sem vocalistas. São uma perfeita fusão entre o groove de dancefloor e as escalas e texturas áridas do Médio Oriente.
4. Censurados
Censurados (1990)

O álbum que me entrou mais nos ouvidos através dos meus phones, durante a minha adolescência de skater. Nada me dava mais pica do que isto. Malta tuga, a falar do que interessa, sem pudores, com fúria mas com muita humildade. Sem dúvida a minha maior referência no rock escrito em português. Censurados até morrer!
5. Tom Zé
Todos os Olhos (1973)

Outro punk, de uma era em que o punk ainda não tinha nome. O Tom Zé para mim é um caso único na história que junta a loucura, a rebeldia, a genialidade, o sentido de humor e o calor de um baiano que viveu sob a repressão da censura brasileira, sem nunca se calar. Não só a atitude dele, mas a forma minimalista e não muito convencional com que ele usa um monte de instrumentos tradicionais neste álbum, inspirou-me bastante na gravação de certas percussões e guitarras portuguesas de “Já Ninguém Vai Mudar o Mundo”.
6. Ko Shin Moon
Leila Nova (2020)

Dos alaúdes, às darbukas, até às encantadoras escalas árabes de sintetizadores distorcidos, os Ko Shin Moon são dos projetos que me fascinam mais na música étnica eletrónica atual. Este álbum foi ótimo para limpar os ouvidos várias vezes, durante as longas horas consecutivas de produção do meu disco.
7. Erasmo Carlos
Carlos ERASMO (1971)

Dos meus compositores favoritos brasileiros de sempre. Volto sempre a este álbum. E este ano não foi excepção. A forma como ele mistura a delicadeza da sua voz, das suas letras e da sua guitarra acústica, com a distorção das guitarras elétricas e dos sopros foi algo que por vezes tentei emular em alguns momentos do meu disco. Confesso.
8. Iggy & The Stooges
Raw Power (1973)

O álbum que sempre me serve quando preciso de tomar boas decisões. Não há tempo para dilemas, venha o que vier. Muito tempo poupei em “overthinkings desnecessários e “crises de identidade” à conta deste disco. Durante a produção do “Já Ninguém Vai Mudar o Mundo” não foi exceção.