8 álbuns: As escolhas dos Lavoisier

Francisco Pereira

Os Lavoisier, de Patrícia Relvas e Roberto Afonso, escolheram os 8 discos que mais os influenciaram na vida pessoal e musical.

Os Lavoisier são o projeto de Patrícia Relvas e Roberto Afonso, dupla que ao longo da última década tem explorado e reinventado a música portuguesa, cruzando tradição, experimentação e uma liberdade criativa que lhes confere uma identidade muito própria.

Depois de trabalhos em que se debruçaram sobre a música popular e de discos como Viagem a um Reino Maravilhoso (2019), no qual musicaram poemas de Miguel Torga, os Lavoisier regressam em 2025 com um novo desafio artístico. Para o seu próximo álbum, com lançamento previsto para outubro, convidaram dez poetas contemporâneos a escreverem textos inéditos que se transformaram em canções.

Enquanto esperamos pela chegada desse novo trabalho, os Lavoisier, a convite do Mente Cultural, apresentaram-nos 8 discos essenciais das suas vidas pessoais e musicais.

1. Fausto Bordalo Dias

Por Este Rio Acima (1982)

Álbum extremamente bem conseguido, quer a nível de composição, arranjos e acima de tudo na adaptação de uma obra literária, neste caso, “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto a um objeto musical. Fausto revela-se neste trabalho como genial, na sua mestria lírica e no domínio da harmonia musical. Podemo-nos arriscar a dizer que ainda ninguém fez tão bem esse trabalho, o de fazer canções, como este enorme colosso (e aqui permitam-nos o pleonasmo) Fausto Bordalo Dias.

2. Caetano Veloso

Transa (1972)

Quando emigrado em Londres, e com a ajuda de Jards Macalé, Caetano proporciona-nos esta viagem ao espírito atormentado e ainda assim vibrante, de uma alma que após ter sido expulsa do seu país, da sua casa, não cede e resiste lutando com arte. É um belíssimo disco.

3. D'Angelo

Black Messiah (2014)

Foram precisos 15 anos após Voodoo, para que D’Angelo apresentasse de novo um longa duração. Black Messiah é inspirador em todos os sentidos, ritmicamente sempre com influências bastante acentuadas por parte de J Dilla, e musicalmente muito forte com as participações de Pino Palladino, Charlie Hunter e Quest Love.

4. GAC Vozes na Luta

Pois Canté (1976)

Ainda quando vivíamos em Berlim, este álbum veio nos parar às mãos, e desde então que serve de inspiração para muito do trabalho que temos vindo a realizar. Seriam precisos muitos parágrafos para sintetizar toda a representação artística, política e musical deste trabalho. Mas aquilo que podemos dizer em relação a este disco gravado pelo incontornável e amigo José Fortes, é que todas as pessoas a quem arte faz sentido nas suas vidas, deveriam escutá-lo pelo menos uma vez. 

5. The Beatles

The Magical Mystery Tour (1967)

Podia ser qualquer um desta banda, mudaram o mundo, conseguiram reunir um consenso global numa altura em que não havia meios de conexão como a internet. A capacidade de contar uma história musicalmente e essa ter repercussão no nosso âmago, só foi possível pela capacidade incrível destes “four lads” saberem interpretar vários códigos dentro dos mais variados estilos musicais, e usá-los da melhor maneira para fazerem uma canção.

6. José Afonso

Enquanto há Força (1978)

Álbum produzido por Fausto Bordalo Dias, e abafado pela sua componente anti colonial. Zeca Afonso tem um papel fundamental nas nossas vidas políticas, artísticas e humanas e por isso seria inevitável a escolha de um álbum de Zeca nesta seleção. Escolhemos este também, pelo facto de nos ter introduzido a nós Lavoisier, ao projecto Wanderer Songs, Cantares de Andarilho, que homenageia o último concerto do Zeca Afonso no Coliseu dos Recreios.

7. Maria Beraldo

Colinho (2024)

Último álbum de Maria Beraldo, que sucede a outro enorme álbum dela chamado Cavala. Esta artista brasileira contemporânea não nos deixa de encantar e surpreender com a sua arrojada composição, que deambula entre estilos tão distintos que vão desde o erudito ao punk. Maria Beraldo é presente e futuro, e é foda!

8. Tarta Relena

Ora Pro Nobis (2019)

Tivemos a honra de partilhar palco com estas artistas e amigas catalãs aquando do Festival Mil de 2021 em Lisboa. O seu trabalho tem uma dimensão artística e espiritual muito própria, e também elas orientadas muito pelo canto ancestral, que no seu reportório viaja entre Espanha e todo mediterrânico, vão dando vida a canções antigas e novas com a mestria e delicadeza, de quem encanta ouvidos e corações.