Big Thief – Double Infinity (2025)

Francisco Pereira

Double Infinity é o sexto álbum dos Big Thief, gravado em Nova Iorque após a saída do baixista Max Oleartchik. Um disco vivo e colaborativo, que funde folk-rock, psicadelismo e poesia intimista de Adrianne Lenker.

Double Infinity é o sexto álbum de estúdio dos Big Thief, e chega num momento de transição. É o primeiro disco gravado depois da saída do baixista e membro fundador Max Oleartchik em 2024, passando o núcleo da banda a funcionar como trio — Adrianne Lenker, Buck Meek e James Krivchenia — embora com várias colaborações no estúdio. O álbum sucede o duplo Dragon New Warm Mountain I Believe in You (2022), que foi, na altura, bastante ambicioso tanto em duração como em número de sessões gravadas por diversos locais. Com Double Infinity, há uma sensação de recomeço e de reconfiguração, mas também de continuidade no estilo meditativo e detalhista que caracteriza os Big Thief.

Gravado ao vivo no estúdio Power Station, em Nova Iorque, ao longo de cerca de três semanas, Double Infinity revela um processo que valoriza espontaneidade, improviso e sentimento de comunidade. Os membros principais escreveram as músicas, mas convidaram múltiplos músicos para tocar, sobrepor camadas instrumentais, enriquecer texturas com instrumentos menos esperados como o zither, entre outros contributos sonoros. A produção esteve a cargo de Dom Monks, colaborador frequente da banda, que manteve uma abordagem que privilegia arranjos vivos, gravações com sobreposições mínimas de overdub, e uma sensação geral que por vezes parece capturar o momento presente com bastante clareza.

Em termos estéticos e temáticos, o álbum investe numa fusão entre folk-rock e toques mais psicadélicos ou de ambiência. Há espaço para música que se expande e se contrai, para momentos de contemplação, para o uso de vozes como instrumento de atmosfera, e para a exploração de relações, memória, amor e impermanência. A poesia de Adrianne Lenker continua a ser o centro emocional do disco: há imagens vívidas que evocam paisagens, detalhes do quotidiano, e sentimento de nostalgia e reconhecimento. Ao mesmo tempo, a banda parece interessada em deixar espaço para o ouvinte respirar, para preencher lacunas, mais do que ditar todas as conclusões.

O disco consegue ser expansivo sem se perder, emocional sem ser demasiado literal, introspectivo sem cessar de soar acessível. Double Infinity consegue ser uma obra significativa no catálogo da banda, o que se torna numa observação redundante.

No fim de contas, o disco representa tanto uma continuação como uma renovação na discografia dos Big Thief. Mantém o carácter emotivo e a habilidade narrativa de sempre, mas assume uma nova configuração de banda, uma forma de gravar mais aberta e colaborativa, e uma disposição para deixar que o som respire — com imperfeições, espaço e calor humano. Não é um disco de ruptura total, mas talvez seja um dos mais honestos que já fizeram, mostrando que querer sentir — amar, recordar, aceitar — continua a ser o cerne do que fazem.