“Chief of War” é uma série que impressiona não só pela escala épica das batalhas e da paisagem vulcânica onde tudo acontece, mas também porque devolve dignidade a uma história muitas vezes contada de fora. Criada e protagonizada por Jason Momoa, que também tem ascendência havaiana, a série revisita o período em que os clãs das ilhas lutavam entre si pelo poder, enquanto os primeiros ocidentais começavam a interferir e a reescrever as regras do jogo.
O enredo acompanha Kaʻiana, um guerreiro lendário que tenta unir o seu povo num momento em que o sangue e a honra valem mais do que qualquer tratado. Filmada quase toda em havaiano, Chief of War aposta na autenticidade — desde as armas e rituais de combate às pinturas corporais que, mais do que estética, são expressão espiritual e política. A atenção ao detalhe é notável: cada tatuagem, cada gesto, cada canto tem peso simbólico e histórico.
Há em Momoa uma entrega rara: ele é o corpo e a alma da série, um gigante de olhar ferido que carrega tanto o heroísmo como a culpa dos seus atos. Há cenas de combate que rivalizam com as melhores produções de Hollywood, mas também momentos de silêncio profundo, quase contemplativos.
A influência de Shōgun é evidente, sobretudo na forma como o choque cultural é explorado. Os ocidentais que chegam às ilhas não são apenas colonizadores — são catalisadores de desordem, homens de fé e ambição que trazem promessas de progresso mas também a semente da destruição.
A fotografia é deslumbrante — os tons dourados do pôr-do-sol sobre o oceano contrastam com o vermelho do sangue e o negro das cinzas. E a música de Hans Zimmer faz o resto: uma composição que mistura percussões tribais com cordas melancólicas.
O último episódio é pura catarse. Uma batalha filmada com uma brutalidade hipnótica, coreografada ao milímetro, onde o destino do Havai se decide entre o fogo e a lama. É o momento em que Chief of War mostra toda a sua força: um épico que não teme a violência, mas que procura o sagrado no meio dela.









