Cabin in the Sky, lançado no passado dia 21 de novembro, é um registo carregado de emoção: trata-se do primeiro álbum dos De La Soul desde a morte de Trugoy the Dove (David Jolicoeur) em 2023. O álbum carrega essa ausência com uma densidade emocional profunda mas sem, contudo, se deixar afundar num lamento permanente.
Cabin In The Sky transporta-nos para uma espécie de espaço simbólico (a tal “cabana no céu”), reforçado pela introdução falada de Giancarlo Esposito, que apresenta o tom: estamos num lugar para refletir, para convocar o passado e honrar o legado de Jolicoeur (que em francês significa “coração bonito”). Essa paisagem metafórica é tanto espiritual como concreta, e é meticulosamente construída ao longo dos vinte temas, com produção de peso: DJ Premier, Pete Rock, Supa Dave West e outros contribuem para um som rico, caloroso e cheio de camadas.
A voz de Posdnuos, agora mais reflexiva, é quem nos guia em grande parte desta jornada. Há nele uma maturidade que nunca abandona o humor ou a leveza característica da banda, mesmo quando aborda temas como a perda, a responsabilidade e a memória. E a presença de versos inéditos de Trugoy não é usada apenas como nostalgia, ele continua “vivo” no disco, como parte central da teia que une passado e presente.
As colaborações reforçam esse sentimento de comunidade e continuidade. Figuras como Nas, Common, Black Thought, Killer Mike e Q-Tip somam-se ao discurso, oferecendo vozes que dialogam com a história dos De La Soul, mas também com o presente.
Sentimos no disco uma dualidade constante entre a dor e a celebração. Em vez de enterrar a saudade num túmulo, a banda constrói aqui um espaço onde o passado é uma parte viva e uma força que guia e inspira. E esse equilíbrio entre luto e alegria, ao longo dos mais de 70 minutos de disco, reflete o processo de cura, que não é linear, e que precisa de espaço para respirar.
Cabin In The Sky nunca podia ser um álbum fácil para os De La Soul assim como nenhum presente e nenhum futuro é fácil depois de uma morte. Mas Kelvin “Posdnuos” Mercer e Vincent “Maseo” Mason mostram-nos como é possível seguir em frente honrando o passado e celebrando o futuro.











