Em Beast in Me, Claire Danes interpreta Aggie, uma escritora e ex-celebridade literária que se isolou depois da tragédia que marcou a sua família. Vive numa casa bonita (mas já decadente), carregada de silêncio, até que a rotina estilhaça quando um novo vizinho se muda para a mansão ao lado: Nile Jarvis, interpretado por Matthew Rhys, um magnata carismático com um historial nebuloso, incluindo o desaparecimento da sua primeira mulher. A química entre ambos é imediata — e desconfortável. Aggie sabe que devia afastar-se e, ainda assim, não o faz. Nile sabe seduzir, ouvir, manipular. E a série constrói-se neste jogo de tensão emocional, feita de pequenas aproximações e recuos.
O criador da série, Gabe Rotter, e o showrunner Howard Gordon (responsável por Homeland), apostam num thriller clássico, mas embrulhado num visual elegante: casas perfeitas, jardins meticulosamente filmados e aquela luz suave que dá ao subúrbio um ar de promessa… e ameaça. O cenário não é neutro — funciona como espelho do que está por acontecer: fachadas bonitas com estruturas rachadas por dentro.
No centro de tudo está Danes, que entrega uma versão de Aggie vulnerável, desconfiada e emocionalmente fragmentada. E sim, as suas famosas expressões de choro — aquele tremor no queixo, o sobrolho franzido, o olhar quase liquefeito — surgem aqui com tanta frequência que, por momentos, roçam o auto-paródico. Mas mesmo quando são quase “marca registada”, resultam: fazem parte do retrato de alguém que tenta manter uma vida inteira colada com fita-cola emocional. Matthew Rhys, por sua vez, dá corpo a um antagonista subtil, nunca totalmente decifrável. Ele não faz o vilão óbvio — faz o homem que te faz duvidar do teu próprio instinto.
Ao longo da temporada, a narrativa prefere o lento ao frenético. Não há twists de cinco em cinco minutos; há, sim, uma acumulação de pequenos sinais, revelações graduais e conversas que mudam o rumo da história sem parecerem que o fazem. A minissérie usa bem o tempo — embora por vezes se estique mais do que precisa — para colocar Aggie dentro de um labirinto psicológico onde, a cada episódio, ela tenta perceber quem é a verdadeira “besta” da equação.
Beast in Me pode não ser o thriller mais original da Netflix, mas tem o suficiente para prender: atuações seguras, um visual refinado e uma história que equilibra investigação e introspecção.











