No novo documentário Becoming Led Zeppelin, que esta semana chegou aos cinemas portugueses, a história da lendária banda britânica é contada com um foco especial nos primeiros anos — quando quatro músicos se juntaram quase por acaso e acabaram a redefinir o rock. Realizado por Bernard MacMahon, o filme é um retrato detalhado, cheio de imagens de arquivo inéditas, gravações raras e muitos depoimentos dos três membros ainda vivos: Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones.
O título parece pretensioso, mas até faz sentido: não é tanto sobre o que a banda foi, mas sobre como se tornou o que viria a ser. O foco está nos primeiros álbuns, nas digressões intensas, e sobretudo na forma como, logo à partida, conquistaram os Estados Unidos — muito antes de se tornarem um fenómeno em casa. Os músicos falam disso com um misto de surpresa e orgulho. É nos EUA que encontram o público que entende a mistura de rock pesado com blues, psicadelismo e improviso, e é também lá que ganham a reputação de banda ao vivo demolidora.
Um dos momentos mais curiosos surge quando falam das suas influências: o som americano, sobretudo o blues, que parecia vindo de outro planeta. “Soava a Marte, mas vinha de Memphis”, diz um deles. O documentário não se limita a alinhar os êxitos. Há contexto histórico: guerra do Vietname, tensões raciais, revolução cultural. Tudo isso serve de pano de fundo à ascensão da banda, e ajuda a perceber o momento em que a sua música chegou.
Há também um peso emocional especial nas palavras de John Bonham, o baterista falecido em 1980, cuja voz surge numa gravação de entrevista que nunca tinha sido tornada pública. Ouvimo-lo falar sobre o prazer de tocar, sobre a ligação com os outros três e sobre a intensidade da vida na estrada. É um dos pontos altos do documentário, e uma forma discreta mas eficaz de lhe prestar homenagem.
Apesar de tudo o que oferece, o filme acaba por parecer incompleto. A fase final da banda, marcada por tragédias, conflitos e desgaste, é tratada de forma apressada. Não há grandes perguntas difíceis, nem reflexões mais profundas sobre o legado, os excessos ou as sombras. Para quem conhece bem a história, isso sente-se. Para quem não conhece, é provável que nem repare.
Becoming Led Zeppelin é, no entanto, uma experiência rica para os fãs: pelos vídeos raros, pelos registos em palco, pelas histórias na primeira pessoa. É também uma boa porta de entrada para quem quiser descobrir ou redescobrir uma das bandas mais influentes do século XX.