O realizador francês François Ozon prepara-se para estrear a sua mais recente longa-metragem, L’Étranger, uma nova adaptação do icónico romance de Albert Camus, publicado em 1942. O filme tem lançamento confirmado para o próximo dia 29 de outubro de 2025 em França, com distribuição a cargo da Gaumont. Trata-se de um projeto particularmente ambicioso que visa recuperar um dos pilares da literatura francesa moderna, cuja atualidade temática permanece incontornável.
A ação do filme decorre em Argel, em 1938, tal como no romance original, e segue a trajetória de Meursault, um jovem apático e existencialmente descomprometido que, após assistir impassivelmente ao funeral da mãe, se vê envolvido num incidente trágico numa praia escaldante, o que o coloca no centro de um julgamento moral e judicial. O papel principal será interpretado por Benjamin Voisin, ator que já havia colaborado com Ozon em Été 85 e que tem vindo a consolidar uma carreira sólida no cinema francês contemporâneo. Ao seu lado surgem nomes de peso como Rebecca Marder, Pierre Lottin, Denis Lavant e Swann Arlaud.
Segundo a imprensa francesa especializada, a rodagem decorreu em Marrocos, numa tentativa de recriar com fidelidade a atmosfera da Argélia colonial da década de 1930. Ozon opta por uma abordagem intimista e contida, distinta das versões anteriores da obra, procurando captar o vazio emocional e o questionamento filosófico que atravessam a figura de Meursault. Em declarações recentes, o cineasta afirmou que esta história ressoa de forma particular com o nosso tempo, dada a crescente sensação de desorientação existencial, a alienação social e a indiferença moral que marcam o mundo contemporâneo.
Com uma filmografia eclética e aclamada, onde se destacam títulos como 8 Mulheres, Na Casa, Frantz e Graças a Deus — vencedor do Grande Prémio do Júri em Berlim, em 2019 —, François Ozon continua a afirmar-se como uma das vozes mais inquietas e consistentes do cinema europeu. Esta adaptação de O Estrangeiro surge, aliás, num contexto de renovado interesse por obras literárias clássicas no cinema francês, que nos últimos anos assistiu a reinterpretações de autores como Alexandre Dumas e Balzac.
A poucos meses da estreia, as expectativas são elevadas. Resta saber como será recebida esta nova leitura de um romance que marcou gerações com a sua escrita seca, o seu protagonista enigmático e a sua reflexão filosófica sobre o absurdo da existência. Certo é que, com Ozon ao leme, L’Étranger terá seguramente uma abordagem formal e emocional à altura da sua herança literária.