Bartees Strange não se deixa enclausular e isso fica claro desde o primeiro acorde do álbum Horror. O artista de Baltimore, conhecido por misturar estilos e desafiar expectativas, volta a surpreender ao mergulhar numa sonoridade ainda mais densa e complexa, num retrato cru dos seus medos e desejos em 2025. Assinado pela 4AD e com produção de peso ao lado de Jack Antonoff, este disco não é um passo atrás, mas sim um aprofundamento da sua jornada artística e pessoal.
Horror nasce num lugar escuro, com temas que vão do desamor e vulnerabilidade até às questões mais profundas de identidade racial e existencial. Logo na abertura, “Too Much” soa confiante, quase arrogante, numa celebração sincera das falhas e incertezas que marcam as relações amorosas. É um convite para uma experiência musical que vai muito além do superficial, onde Bartees não precisa de personagens ou histórias inventadas para ser ele próprio.
A faixa “Baltimore” funciona como uma poderosa reflexão sobre o local que hoje o define, mas também sobre as possibilidades que a vida poderia ter tomado. A sua honestidade é cortante, especialmente quando fala sobre as preocupações de criar filhos negros num mundo ainda permeado pelo racismo: “Quando penso em lugares para viver / pergunto-me se algum é bom o suficiente para criar algumas crianças negras”. É um momento que não se ouve todos os dias, e que faz deste disco uma obra relevante, para lá do seu lado musical.
Ao longo das 12 faixas, Bartees explora um leque imenso de emoções. Em “Lovers”, mesmo com uma batida energética e dançável, há uma fragilidade profunda — um misto de excitação e ansiedade que ecoa as dores e dúvidas de um novo amor. Já “Sober” é a faixa mais radiofónica, mas acaba por não conseguir manter a originalidade e intensidade das outras, ficando um pouco presa a clichés pop que destoam do resto do álbum. Ainda assim, a guitarra vibrante de “Wants Needs” lembra o auge do indie-rock de Thurston Moore e revela o nervo artístico de Bartees, aquele desejo inquieto de continuar a crescer, mesmo que isso implique enfrentar as próprias inseguranças e o medo de ser esquecido.
O disco é uma colcha de estilos — funk, indie, rap, folk, rock — que pode parecer caótico numa primeira audição, mas que ganha sentido à medida que se escuta com atenção. Esse equilíbrio entre contradições, entre momentos de euforia e outros de silêncio tenso, é talvez o maior trunfo de Horror. Não é um álbum perfeito — algumas músicas arrastam-se ou não convencem completamente —, mas essa imperfeição também faz parte do charme e da humanidade da obra.
Bartees Strange continua a provar que é um artista para seguir de perto. Com uma voz que atravessa fronteiras estilísticas e emocionais, ele está no controlo do seu destino musical, mesmo que às vezes pareça navegar numa tempestade de incertezas. Horror é uma prova disso: uma obra que se recusa a ser simples, mas que recompensa o ouvinte disposto a mergulhar nas suas profundezas.