O novo álbum de Humberto, pseudónimo musical de Bruno Humberto, intitulado MAU TEATRO, lançado no passado dia 16, surge como uma estreia a solo que combina a dimensão performativa do artista com uma proposta musical que funde indie-folk, pop, música tradicional portuguesa e influências de fado.
Bruno Humberto já trazia um percurso multidisciplinar: estudou Performance Making na Goldsmiths College, em Londres, participou em música experimental, improvisação e colaborações com instalações sonoras e performance. Com MAU TEATRO ele dá um passo significativo no seu caminho como artista músical, construindo um álbum que afirma identidade própria e voz artística mais definida. Segundo as notas de lançamento, o disco foi escrito ao longo de vários anos, e as composições reúnem-se agora sob um tema central: o teatro da vida quotidiana, as operações de poder, as repetições de gestos, as falhas e a encenação.
O álbum aparece então como uma reflexão sobre a “nossa atuação ou impotência política”, sobre o dia-a-dia que se torna uma peça e sobre as relações que parecem ensaiadas. A somática do disco — o cruzamento de folk/pop com música tradicional — espelha essa ambição: sonoridades contidas, trabalho feito com instrumentos que evocam raízes mas igualmente abertura para o contemporâneo. A produção esteve a cargo de Miguel Nicolau, com masterização por Hugo Valverde e Nuno Monteiro.
O que salta à vista, e aos ouvidos, é o equilíbrio que Humberto procura entre a intimidade e a exposição, entre o ritual e o banal, entre luz e sombra. Há aqui uma boa disposição inteligente: o artista não renega o drama, mas parece brincar com ele, apresenta-o como peça que também nos permite sorrir, reflectir ou observar com distanciamento. E esse cruzamento de humor leve, seriedade e inquietação funciona bem. Muito bem mesmo.
Em termos de percurso artístico, este álbum representa um momento de afirmação para Humberto: vindo de trabalhos de carácter mais experimental e da intersecção entre performance e música, ele legitima-se agora no campo da canção, com todas as ambições que isso implica. O lançamento foi acompanhado de apresentação ao vivo no espaço Casa Capitão, em Lisboa, no dia 16 de outubro, onde a banda que gravou o disco interpretou-o na íntegra.
MAU TEATRO é uma proposta mais do convincente: revela um artista que não se contenta com repetir fórmulas, mas que abraça a complexidade sem tornar tudo hermético. Em suma, Humberto entrega um álbum com voz, peso e leveza, que nos convida a observar o “teatro” da vida com uma atenção renovada. É, sem dúvida, um dos álbuns nacionais do ano.











