Quando os Geese começaram com Projector em 2021, já se cheirava uma banda promissora, jovem, radical na forma como queria renovar o indie rock, puxando fortemente pelo pós-punk. Depois veio 3D Country (2023), que misturava essa urgência com traços de rock mais alargado, guitarras que abriam espaço para ambiências mais amplas, talvez com menos urgência, mas com uma ambição clara de expandir territorio. Depois o disco a solo de Cameron Winter, Heavy Metal (2024), teve também um papel importante — ajudou a trazer para a banda aquilo que muitos críticos reconhecem agora: uma veia emocional mais exposta, uma voz menos só distorcida pelo ruído, mais vulnerável.
Getting Killed, lançado no passado dia 26 de setembro, marca um ponto de viragem: é simultaneamente o mais estranho dos Geese até agora e, quiçá, o mais forte. Sob a produção de Kenneth Blume (ex-Kenny Beats), o álbum aposta numa sonoridade mais fragmentada, ansiosa, ritmos que se repetem, grooves que conduzem tanto como guitarras ou letras — quando muitas bandas jovens procuram o “hit-fácil”, os Geese subvertem esse caminho.
A voz de Winter é um dos pontos centrais, meio rasgada, arrastada, às vezes implorante, outras vezes berrada, mas sempre com personalidade, capaz de soar ambígua e pessoal. Há quem diga que Winter nas letras continua pouco literal, ou que algumas imagens são cifradas, “irreverentes”, “nonsense”, mas isso está em sintonia com a estética geral: a ideia de uma banda desconfortável com definições fixas.
Instrumentalmente, há progresso claro: o uso de samples de coro ucraniano, trombones, variações de percussão para além do drum kit tradicional, temas que se constroem aos poucos (às vezes de forma meditativa), subidas de tensão, rupturas de estrutura. Não estamos perante um disco que se importa de ser desconfortável, de fazer perguntas ou de usar o caos (ou quase).
Getting Killed consegue balancear abrasividade, caos e melodias, ou seja, há ganchos, há refrões (não os clássicos pop), há intensidade emocional que prende. Há também faixas que soam repetitivas, ou intros excessivamente alongadas, vocalizações que repetem o estilo “grito / falsete / arrastado” que, para quem prefere estrutura clara ou melodias imediatas, podem cansar.
Mas no geral, não tenhamos dúvidas: Getting Killed é um disco que cimenta a reputação dos Geese como uma das bandas mais interessantes da cena indie/alternativa atual. É impressionante em ambição, coragem, densidade sonora e coerência emocional.










