Great Grandpa — Patience, Moonbeam (2025)

Francisco Pereira

Cr+itica: Após seis anos de silêncio, os Great Grandpa regressam com Patience, Moonbeam — um álbum vibrante, emocional e inventivo que reconcilia o passado com o futuro.

Após seis anos sem editarem um álbum completo — algo impensável em tempos de ciclos rápidos — Patience, Moonbeam revela-se um regresso de grande força para o quinteto de Seattle, Great Grandpa. É um disco de reconciliação, tanto emocional como sonora, que reconecta os membros após percursos geográficos e pessoais distantes (Al Menne em Los Angeles, os Goodwin em solo dinamarquês), mas que volta a fundi-los num colectivo telepático perfeito.

O álbum abre com “Never Rest”, uma balada folk de cordas cautelosas que lentamente se transformam em guitarras distorcidas, quase a emular uma noite a cair subitamente na confusão. Não demora muito até os ritmos mais country-folk surgirem em “Junior”, uma típica faixa ensolarada sobre cumplicidade, saudade e o American Dream, que encerra num refrão construído para cantar em uníssono com a banda, num puro triunfo emotivo.

Esse contraste entre doçura e tensão é o pulso do disco. Em “Doom”, a banda transforma uma introdução clássica em cordas num tributo aos Radiohead – reverberações, pausas, mudanças de ritmo súbitas – para descambar num riff esmagador que nos deixa vulneráveis e com vontade de bater num colchão. E depois há “Ladybug”, uma surpresa quase pop, com synths, efeitos vocais e banjo num twist refrescante. É o efeito “lasers e banjo juntos” a funcionar na perfeição.

A coesão do álbum, mesmo entre momentos tão díspares, é talvez a maior vitória. Há electrónica trip-hop em “Ephemera”, clássica Americana em “Top Gun”, experimentações vocais em “Kiss the Dice” — tudo tão vibrante quanto inesperado, mas sem nunca parecer dispersivo. É um registo ambicioso: cenários campestres, paisagens urbanas, psicadelias subtis, e ainda assim vivemos cumpridos e emocionalmente saciados.

Não será um disco para ouvir distraidamente — exige paciência, tal como o nome sugere. Aliás, nem nos deixa estar distraídos porque se os estivermos, depressa paramos o que estamos a fazer para escutar mais atentamente. E recompensa quem mergulha nele: cada faixa é um mundo, recheado de texturas e segredos escondidos. E, quando chega à última canção, “Kid”, somos recebidos por um lamento sincero sobre uma perda — escrita por Pat e Carrie Goodwin após terem sofrido um aborto espontâneo —, com guitarras suaves à George Harrison e vozes corais que não limpam a dor, apenas lhe dão acolhimento.

Patience, Moonbeam é, assim, um regresso luminoso e consolidado: não transmite nostalgia nem tenta repetir o passado — faz o que qualquer grande banda deveria fazer: reinventar-se e expandir o seu universo. Convoca dores e memórias, parte o coração, oferece abraços, e mostra que o verdadeiro poder da música está na reconciliação com o que fomos, o que somos e o que virá.

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