Hard Life – Onion (2025)

Francisco Pereira

Crítica: Após perderem o nome e um membro, os antigos Easy Life renascem como Hard Life com o álbum "Onion", um registo cru, emocional e vulnerável.

O que acontece quando uma banda perde o nome, um membro e parte da identidade que a tornou conhecida? Onion, o primeiro disco da banda agora chamada Hard Life, tenta responder com franqueza e emoção à flor da pele. O grupo, antes conhecido como Easy Life, foi obrigado a mudar de nome após uma batalha legal com a easyGroup. Este disco marca não só uma resposta a esse episódio, mas também uma tentativa de reconfigurar tudo o que vinha antes, musicalmente, liricamente e emocionalmente.

Gravado em Tóquio num estúdio homónimo ao título, Onion é, como o nome sugere, feito de camadas frágeis, sobrepostas, e por vezes desconfortáveis. A produção caseira, mais crua e espontânea do que os trabalhos anteriores, permite que a voz de Murray Matravers esteja mais presente do que nunca: não para liderar com confiança, mas para expor dúvidas, mágoas e reflexões sobre a amizade, o fim de relações, a frustração com a indústria e a vida em geral.

Temas como “Tears” e “Othello” deixam claro desde o início que esta não é uma tentativa de regresso à fórmula que lhes trouxe sucesso. Há dor aqui — tanto na escrita como na entrega. Matravers transforma as cicatrizes da banda (a perda do baixista Sam Hewitt, a saída da editora, a mudança para o Japão) em matéria-prima lírica. É um disco que soa a diário não editado, a pensamento dito em voz alta antes de ser polido.

Musicalmente, Onion afasta-se do pop ensolarado e híbrido dos tempos de Easy Life. Aqui, o som é mais minimalista, com arranjos que se arriscam a soar inacabados, mas que se mantêm consistentes com o espírito de vulnerabilidade do álbum. A produção de Taka Perry encaixa bem neste novo registo: mais experimental, mais espacial, menos preocupado com playlists.

Há momentos menos conseguidos — algumas faixas caem em repetições melódicas ou perdem impacto pela simplicidade excessiva da composição. Mas a honestidade do projeto compensa: temas como “Proximity Effect” ou “Y3llow Bike” mostram uma banda que prefere arriscar a soar imperfeita do que repetir fórmulas gastas.

O álbum fecha com “End Credits.”, uma espécie de carta de amor aos fãs e a tudo o que ficou para trás. Não há certezas de futuro, mas há uma intenção clara: continuar. E talvez seja isso que mais define Onion: não o disco de quem recomeça do zero, mas de quem assume que já não é o mesmo — e que isso pode ser, por si só, libertador.

Onion não é um disco de transição, é uma declaração de identidade. Menos vibrante do que os trabalhos anteriores, mas mais íntimo e corajoso. Uma espécie de carta aberta à incerteza, assinada por quem sabe que continuar é, às vezes, a única forma de resistência.