Horsegirl – Phonetics On and On (2025)

Francisco Pereira

Crítica: No segundo álbum, "Phonetics On and On", as Horsegirl trocam o ruído lo-fi por um minimalismo maduro, íntimo e contemplativo, guiado por Cate Le Bon.

As Horsegirl, trio de Chicago formado por Penelope Lowenstein, Nora Cheng e Gigi Reece, revelam-se mais maduras e focadas no seu segundo álbum, Phonetics On and On. Produzido por Cate Le Bon e gravado nos dias gelados do Loft (estúdio dos Wilco em Chicago), o disco é um exercício de minimalismo sofisticado, um contraponto elegante ao barulho e distorção do seu disco de estreia, Versions of Modern Performance.

Desde a primeira faixa, “Where’d You Go?”, de pouco mais de um minuto, percebe-se a economia de meios que sustenta toda a narrativa sonora — guitarras limpas, bateria espartana, vozes entrelaçadas, num diálogo que é simultaneamente íntimo e universal. A proposta mantém-se em temas como “Rock City”, “Well I Know You’re Shy” e“2468”, onde as harmonias delicadas e os ritmos contidos revelam uma química rara entre as três – meio campus universitário, meio rock de garagem reinventado.

As letras em tom de diário, com vocábulos repetidos e sons onomatopaicos, refletem a mudança de cenário que percorre a adolescência em Chicago até às salas da NYU e da vida adulta em formação. Cada “fa la la” e “do do do” contam tanto quanto qualquer verso carregado de significados e são experiências traduzidas em som e silêncio que pedem interpretação e companhia.

Phonetics On and On afirma-se assim, menos como uma progressão linear e mais como um eco expandido daquilo que as Horsegirl sempre foram (até agora) e do que ainda podem vir a ser. Se o disco de estreia era uma cápsula de juventude lo-fi, ancorada em guitarras muradas e vozes semi-escondidas, este segundo álbum continua a vaguear pelos mesmos corredores sonoros, mas com uma leveza inquietante, quase como se a banda estivesse a observar o seu próprio reflexo a distorcer-se numa poça suja de nostalgia.

Há mais espaço no som — mais ar entre os instrumentos, mais silêncio a pontuar as melodias, mais paciência em deixar as ideias respirarem. A urgência adolescente que marcava Versions of Modern Performance cede aqui lugar a um ritmo mais hesitante, quase contemplativo. As canções desenrolam-se como fragmentos de cadernos antigos, em que se misturam lembranças incompletas, poesia acidental e frases que soam mais sentidas do que escritas. A estrutura é deliberadamente difusa, como se cada faixa estivesse constantemente à beira de se desintegrar — e, em certa medida, é essa precariedade que lhes dá força.

Phonetics On and On não oferece hinos nem respostas. É um disco de passagens — de palavras ditas a meio, de ideias que se insinuam sem se resolverem, de melodias que se recusam a culminar. Com tempo revela-se como um álbum que resiste ao consumo fácil. É um diário murmurado entre amigas, escrito no fim de uma era qualquer, entre a última aula e o último comboio.

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