Jade Bird regressa com uma das suas obras mais poderosas e coesas até hoje. Lançado em 18 de julho de 2025, o terceiro álbum da artista britânica – agora a viver em Los Angeles – mergulha em memórias pessoais e traumas familiares, traçando uma linha íntima entre os ciclos do passado e o renascer emocional do presente.
Ao contrário da experimentação electrónica do EP de 2024, Burn the Hard Drive, aqui vemos uma Jade mais contida, mas igualmente intensa – sem os temas mais intensos que preferiu deixar de fora por não querer que a raiva dominasse o álbum. O disco esmiúça um coração partido após o fim de um noivado e a herança emocional de divórcios familiares que ecoam por gerações, com uma honestidade brutal e nada ensaiada.
As canções são curtas, diretas e carregadas de emoção. Pela sua simplicidade “Stick Around” abre o álbum com voz e guitarra, questionando se o amor do outro foi genuíno – um momento cru que define o tom do disco inteiro. Já “Avalanche” é uma balada fragmentada, intensa, que transmite o peso esmagador do sofrimento, mas também a busca por redenção e luz no final da ponte.
Por outro lado, “Dreams” traz outra energia: produzida por Greg Kurstin (o único tema dele no álbum), tem uma vitalidade e uma intensidade vocal nervosa que contrasta com todo o resto do disco, mostrando uma Jade vulnerável até na explosão emocional.
Ao longo do álbum Jade transita entre o country folk e o pop mais polido sem perder autenticidade: em faixas como “Save Your Tears” e “How to Be Happy” a esperança surge timidamente, um vislumbre de reconciliação interior e vontade de crescer para lá da dor.
As produções de Andrew Wells, Andrew Sarlo e Teddy Geiger oferecem riqueza de texturas e variações que acompanham bem a narrativa emocional: seja num crescendo dramático ou numa interpretação quase acústica, Jade Bird consegue manter unidade e sentido em todo o disco.
No total, Who Wants to Talk About Love é o trabalho mais maduro e emocionalmente complexo de Jade até agora. É um álbum que fala diretamente sobre dor, herança e esperança, com uma clareza narrativa e musical que dificilmente se vê em artistas contemporâneas. Jade Bird mostra-se agora como uma contadora de histórias sagaz e corajosa, capaz de comunicar cicatrizes emocionais com leveza e força ao mesmo tempo.
