Lola Young – I’m Only F**king Myself (2025)

Eduardo Marino

Irreverente, intensa e emocionalmente sem filtros, Lola Young confirma no novo álbum porque é vista como a next big thing da música britânica. Um disco cru, honesto e viciante, onde o desassossego da sua geração encontra uma voz feroz e lúcida.

Com apenas vinte e poucos anos, Lola Young tornou-se uma das figuras mais vibrantes da nova cena britânica — uma artista que expõe as suas contradições sem se proteger. A comparação com Amy Winehouse é inevitável: há a mesma entrega vocal, a mesma fusão entre vulnerabilidade e raiva, e uma franqueza que desarma. Mas Lola é filha da sua época — cresceu em plena era TikTok, fez de “Messy” um hino viral e transformou a exposição emocional em linguagem artística. O novo álbum, I’m Only F**king Myself, é a sua afirmação definitiva: uma coleção de canções que soam como uma conversa íntima com o espelho, por vezes doce, por vezes brutal.

Logo no arranque, FUCK EVERYONE explode como uma declaração de independência. É provocadora e divertida, com batida punk-pop e versos que se recusam a pedir desculpa. É a Lola em estado puro — confiante, sarcástica, livre. Em One Thing, o tom muda: há groove e sensualidade, mas também introspeção, entre guitarras reverberantes e um baixo hipnótico. Já Spiders mergulha na vertigem da ansiedade, uma das faixas mais intensas do disco, onde a voz falha, treme, e por isso mesmo soa mais humana. A seguir, CAN WE IGNORE IT? 🙁 mostra a outra face do espelho — o momento em que a ressaca emocional chega, quando já não há festa nem euforia que disfarce o vazio.

Musicalmente, o álbum é uma viagem entre géneros: soul, pop alternativo, rock e eletrónica coexistem num equilíbrio quase instintivo. A produção é polida, mas deixa espaço para a voz — rouca, densa, quase sempre à beira de partir — brilhar no centro. E há uma coerência emocional rara: cada faixa parece escrita no calor de uma experiência real. É um disco que não pede que o compreendam à primeira; pede que o sintam.

Ao vivo, Lola transporta essa intensidade para o palco — algo que o público português já testemunhou em Paredes de Coura, onde a cantora se mostrou espantada com a receção calorosa e levou a multidão ao rubro. Talvez por isso este álbum soe como um ponto de viragem: a artista que se expõe e fere em público está também a aprender a dominar o seu próprio caos.

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