Há séries que nos agarram pela genialidade e há outras que nos prendem porque… simplesmente não conseguimos acreditar no que estamos a ver. “The Girlfriend“, seis episódios na Amazon Prime, encaixa lindamente na segunda categoria. Um sucesso popular, com aquele tipo de energia que mistura novela mexicana com thriller psicológico, esta é uma série feita para devorar de uma vez — enquanto o cérebro tira férias e o prazer culposo toma conta do sofá. O site Rotten Tomatoes mostra 86% de aprovação, sugerindo que muitos críticos aceitaram o exagero da série como parte do charme.
A premissa parece saída de um grupo de WhatsApp caótico: uma jovem mulher e a mãe do seu namorado travam uma guerra fria (e por vezes bastante quente) pelo mesmo homem. O twist? Cada episódio é contado do ponto de vista de uma delas. Ora vemos a versão angelical da namorada, ora a defesa desesperada da mãe — e o espectador é atirado de um lado para o outro como quem muda de equipa num reality show. Quem está a dizer a verdade? Há uma vítima ou são todas culpadas? A resposta muda em cada episódio, claro.
O grande trunfo da série é esse jogo de espelhos. Não há tempo para respirar — quando achamos que dominámos o enredo, surge um novo plot twist. O resultado é uma sucessão de revelações tão exageradas que se tornam deliciosas. É o caos perfeito: camp, melodrama e suspense em doses que desafiam o bom gosto.
No centro da confusão, duas interpretações que sabem exatamente o tipo de série em que estão. Olivia Cooke (conhecida por “House of the Dragon“), que faz de namorada alterna perfeitamente entre o olhar inocente e a manipulação disfarçada Robin Wright (sim, a Claire Underwood de “House of Cards“), interpreta a mãe com uma espécie de mistura entre vulnerabilidade e fúria contida, num registo quase teatral. É impossível escolher um lado. Ambas são insuportáveis e fascinantes, o que é, neste caso, um elogio.
Um detalhe que merece aplauso: Robin Wright realiza a maioria dos episódios. atrás das câmaras, conduzindo o drama com mão firme e um toque de ironia elegante. Wright parece divertir-se a empurrar as personagens para o limite, como se dissesse: “Querem trash? Então levem trash com estilo.”
E, claro, cada episódio termina com um cliffhanger estrategicamente cruel, daqueles que nos fazem carregar no “ver próximo episódio” antes de conseguirmos decidir se estamos a gostar ou apenas viciados no disparate.
No fim, “The Girlfriend” é o tipo de série que não se leva a sério — e é precisamente por isso que funciona. É o entretenimento perfeito para uma noite de sofá, uma maratona de domingo, ou aquele momento em que só queremos algo que nos distraia e nos faça rir do absurdo humano.
Não vai mudar a televisão, mas vai garantir que passemos horas a comentar no grupo de amigos: “Esperem… ela fez mesmo aquilo?”
E sim, até Taylor Swift confessou que não conseguiu resistir ao fenómeno — o que, convenhamos, é o selo de aprovação definitivo para qualquer guilty pleasure.










