The Lowdown, a nova série criada por Sterlin Harjo (co-criador de Reservation Dogs), é um mergulho sujo e fascinante num certo submundo americano. No centro da trama está Ethan Hawke, que interpreta Lee Raybon, um livreiro falido e “truth-storian” autoproclamado, espécie de repórter de bairro com demasiadas dívidas e uma moral que oscila entre o idealismo e o desespero.
A história arranca quando Lee publica uma investigação comprometedora sobre a poderosa família Washberg, uma dinastia local com dedos em todas as áreas — da política à imprensa. O artigo desencadeia uma série de acontecimentos que o ligam ao suicídio suspeito de um dos membros da família, e, a partir daí, o enredo transforma-se num labirinto de corrupção, manipulação mediática, racismo estrutural e identidades culturais fragmentadas. Tudo isto passado em Tulsa, uma cidade que aqui é mais do que cenário — é um organismo vivo, pulsante.
A série brilha sobretudo pelo tom que Harjo imprime: uma mistura improvável de noir com humor cínico e observação social. Há algo de pulp e de jornalismo artesanal na forma como as histórias se desenrolam — com recortes de jornal, entrevistas em bares decadentes e gravações em fitas cassete —, tudo envolto numa atmosfera que parece simultaneamente decadente e poética. Ethan Hawke é o eixo de toda essa desordem: um anti-herói carismático, desastrado e irresistivelmente humano, num papel que muitos críticos consideram um dos melhores da sua carreira recente.
A realização e a escrita conferem a The Lowdown uma identidade muito própria. A série tem uma relação direta com o trabalho anterior de Sterlin Harjo, que é ele próprio membro da comunidade Seminole/Muscogee (Creek), e isso nota-se tanto na forma como filma Tulsa como nas histórias que decide contar. Tal como em Reservation Dogs, Harjo volta a trazer para o centro da narrativa uma América quase invisível, onde a cultura indígena não aparece como exotismo, mas como parte viva — e, sobretudo, contemporânea — do tecido social.
A relação entre a personagem que Hawke representa e a de Jeanne Tripplehorn dá à série uma tensão moral: ele é o homem que procura a verdade sem meios, ela é a mulher que vive do poder sem culpa. O confronto entre ambos acaba por simbolizar o conflito maior que atravessa The Lowdown: a luta entre narrativas — a da América oficial, contada por quem manda, e a da América esquecida, contada por quem ainda resiste.
Ao contrário de tantas séries de crime e investigação que dependem da estética “clean” e do suspense previsível, aqui tudo é imperfeito, improvisado e profundamente humano. The Lowdown não tenta ser uma série “bonita” nem “limpa”. E isso acaba por jogar a seu favor.










