Valerie June sempre dançou algures entre o cosmos e o chão que o resto de nós pisa, enraizando a sua voz sobrenatural em verdades enquanto flutuava num sonho de som e espírito. Neste seu novo álbum, Owls, Omens, And Oracles, a cantora e compositora nomeada para os Grammy leva-nos na sua viagem de maior expansão da alma até ao momento. É um disco leve, curativo e gloriosamente estranho que parece uma coleção de música criada como um ritual de sobrevivência.
Produzido pelo alquimista folk indie M. Ward e com harmonias transcendentes das lendas do gospel Blind Boys of Alabama, Owls, Omens, And Oracles é um feitiço lançado em formato sonoro. Entrelaça o místico e o mundano, extraindo páginas do livro de June, Maps For The Modern World, e transformando-as em afirmações sonoras de alegria, tristeza e renascimento.
O primeiro single do álbum, “Joy, Joy!”, chegou como um sermão ao nascer do sol. “What we focus on is what we manifest” (Aquilo em que nos focamos é aquilo que manifestamos), disse June, e o seu foco é extremamente nítido. Ela canta a alegria não como um sentimento passageiro, mas como um ato de revolução, uma resistência ao desespero num momento de constante agitação. Com os seus tons gospel e arranjos brilhantes, “Joy, Joy!” é ao mesmo tempo oração e protesto, uma celebração do agora e um apelo a imaginar amanhãs melhores.
Owls, Omens, And Oracles é um regresso à forma, mas também uma evolução completa. O álbum reconecta-se com a energia eclética e terrena das suas raízes indie, ao mesmo tempo que encontra um caminho a seguir. Há folk sulista e soul cósmica, sussurros de psicadelismo e a lenta queima do jazz espiritual. E durante tudo isto, a voz inconfundível de June — ora selvagem, ora etérea — guia-nos como uma lanterna no escuro. Em termos de letras, o álbum foca-se na abertura espiritual e na empatia radical. “Let yourself celebrate your aliveness” (Deixe-se celebrar por estar vivo), diz ela. É um apelo para nos libertarmos da inércia da cultura do apocalipse e para nos lembrarmos do facto extático, doloroso e belo de que ainda estamos aqui, ainda a sentirmo-nos, ainda ligados. Há risos nas letras, mas também tristeza. Há magia, mas nunca sem honestidade. Owls, Omens, and Oracles parece o disco que não sabíamos que precisávamos, mas precisamos. É um encantamento contra o cinismo e um gentil lembrete de que a suavidade também é poder.