Com uma estreia estrondosa, “Weapons” confirma-se como o filme sensação do momento e prova de que o terror continua a ser o género mais inventivo e saudável do cinema. A nova obra de Zach Cregger, o realizador que já tinha surpreendido com “Barbarian”, estreou com números impressionantes: só no primeiro fim de semana nos EUA arrecadou mais de 40 milhões de dólares, ultrapassando rapidamente a barreira dos 100 milhões a nível global (e continua a faturar, muito devido ao “passa a palavra”). Para um filme de terror original — sem a muleta de sequelas ou super-heróis — é um feito que só reforça o apetite do público por histórias frescas e arriscadas.
O argumento é talvez a sua maior arma. Cregger descreveu o filme como uma espécie de “Magnolia” do terror, sendo uma teia de personagens e histórias interligadas com a mesma energia coral e emocional desordenada de Paul Thomas Anderson. O motor da história é o desaparecimento inexplicável de 17 crianças de uma turma às 2:17 da madrugada. A partir daí, abre-se um mosaico de perspetivas — professores, pais, polícia, vizinhos — que vão desenhando um mistério sobrenatural cada vez mais perturbador. É um guião fragmentado, ousado e com a coragem de deixar ao espectador a tarefa de encaixar as peças, evitando explicações fáceis.
O elenco está à altura da ambição, mas é Amy Madigan quem rouba o filme por completo. A veterana surge irreconhecível, dando corpo a uma figura que mistura excentricidade com uma malevolência ancestral, transformando cada gesto em ameaça. É uma daquelas interpretações que ficam coladas à memória, e que dificilmente deixará de ser lembrada como uma das grandes vilãs do terror moderno.
Tal como em “Barbarian”, Cregger não se limita a empilhar sustos. O filme assusta — e muito — mas também sabe rir-se de si próprio, A veia cómica surge de forma orgânica, quebrando tensões com pontes satíricas e momentos surpreendentes — como a vingança feroz das crianças ou o desmoronar do poder da antagonista no clímax. Esse equilíbrio torna a experiência ainda mais eficaz: quando o espectador se sente em segurança, o filme puxa o tapete debaixo dos pés.
Num verão dominado por blockbusters previsíveis, “Weapons” surge como a grande prova de que o terror é, mais uma vez, o terreno onde se inventa e arrisca. É um filme que mostra vitalidade comercial e frescura criativa em partes iguais, capaz de agradar tanto ao fã hardcore do género como ao público que só quer um bom susto no cinema.