Wolf Alice – The Clearing (2025)

Eduardo Marino

De regresso com “The Clearing”, os Wolf Alice trocaram a fúria das guitarras por um mergulho vintage nos anos 70. Estranha-se ao início, mas depressa se percebe que este é um disco que se entranha, daqueles que crescem a cada audição.

Depois de três álbuns que os posicionaram como mestres da metamorfose sonora — das camadas shoegaze de Visions of a Life às explosões indie de Blue Weekend —, os Wolf Alice voltam com The Clearing, um álbum que soa à primeira escuta mais polido, mas também mais ousado do que parece. O responsável por esta nova roupagem? O produtor Greg Kurstin, um nome de Hollywood que dá ao disco uma aura clássica.

O som que se ouve aqui é como se os anos 70 tivessem invadido um estúdio de Londres em 2025. É glam — há ecos de Fleetwood Mac, aquele balanço que nos leva da balada ao rock grande com um braço só. Os Wolf Alice afirmam que o disco é “um álbum de pop/rock clássico, com influências dos anos 70 mas com os pés bem fincados no presente”, e a frase não é pose.

Em contraste com a urgência de guitarras distorcidas que nos habituaram, The Clearing aposta em teclados, pianos, arranjos orquestrais e harmonias delicadas. Mas que ninguém pense que é fraquinho: há intensidade emocional no meio de tudo isso, construída com muito cuidado e sensibilidade.

Faixas como Thorns abrem o álbum com uma tempestade controlada — um crescendo que é cinematográfico e incandescente ao mesmo tempo. Já Bloom Baby Bloom explode entre melodrama e força: é punk de piano e alma de rock, irresistível ao vivo (ver no Youtube, a atuação no Jimmy Kimmel).

Há amor e afeto espalhados por músicas como Just Two Girls, um hino à amizade feminina, e Leaning Against the Wall, que começa country-folk e depois se eleva em camadas inesperadas. White Horses, com vocal partilhado do baterista Joel Amey, tem aquele balanço tipo Fleetwood Mac e é daqueles momentos que podia ser single num álbum de singles.

Sim, à primeira escuta pode soar diferente, mais leve e até… clean? Algumas críticas apontam que essa transição para um som mais clássico, menos rugoso, suavizou um pouco a energia bruta que os fãs amam. Mas o que fica é que a banda amadureceu e explorou sem perder o coração — e isso cresce a cada audição.

E ao vivo? Quem já os viu sabe: esta banda explode no palco. Mesmo que o álbum seja mais contido, em estúdio, as faixas ganham vida quando Ellie verga as notas no microfone e a banda rebenta as paredes do lugar. É música que cresce no corpo, e The Clearing é um disco que precisa de ser ouvido uma vez e outra e outra…

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