Alan Sparhawk, With Trampled by Turtles (Sub Pop)
Em 2022, perdemos Mimi Parker e, com ela, uma das melhores e mais consistentes bandas dos últimos 30 anos. Os Low deixaram-nos um catálogo irrepreensível que estimamos muito e agora a história continua com a carreira de Alan Sparhawk. With Trampled by Turtles é já o segundo álbum a solo do fundador da banda do Minnesota e é um registo fraternal e coletivo em conjunto com a banda do mesmo estado e amigos de longa data Trampled By Turtles.
Ben Kweller, Cover The Mirrors (The Noise Company)
O regresso de Ben Kweller à música é um tanto agridoce. Cover The Mirrors é o primeiro álbum do artista desde a morte do seu filho Dorian, aos 16 anos num acidente de carro. A data de lançamento de Cover The Mirrors é também simbólica, no dia em que Dorian celebraria 19 anos. O sétimo álbum do californiano incide naturalmente sobre esta perda, mas Kweller não se ficou por aí. O cantor aproveitou a triste ocasião para refletir no tempo que já passou neste mundo, tanto como pessoa como artista. Nos momentos mais difíceis, precisamos sempre de uma mão amiga e Ben Kweller faz-se acompanhar de MJ Lenderman, Waxahatchee, The Flaming Lips e Jason Schwartzman.
caroline, caroline 2 (Rough Trade)
Um bom single de lançamento constrói desde o início uma grande antecipação para o álbum. É o caso de caroline 2, naturalmente o segundo álbum da banda caroline. Em abril, o conjunto de oito lançou “Tell me I never knew that”, com Caroline Polachek e desde logo se tornou uma das canções do ano. Em caroline 2, a banda de pós-rock expande o seu som relativamente ao álbum de estreia, brincando com o contraste entre o orgânico e o eletrónico e entre o primitivo e o refinado.
Garbage, Let All That We Imagine Be The Light (BMG)
Em Let All That We Imagine Be The Light, os Garbage regressam com a sua postura provocatória e irreverente, bem conscientes do seu valor e lugar no mundo. Mas por trás de uma persona confiante, o álbum conta uma história de superação e auto-aceitação, com muita dor ao longo do percurso. As guitarras angulares e os sintetizadores consistentes criam uma sonoridade densa, por vezes até cinemática. É um registo que procura humanizar o processo de sofrimento, não negando a impotência e a revolta. Let All That We Imagine Be The Light é mais uma entrada no longo cânone de álbuns que mostram que a dor é um grande catalisador para boa arte (e não é o único na lista desta semana!)
Matt Berninger, Get Sunk (Book/Concord)
O vocalista da aclamada banda The National desde 2020 que lança música a solo, sendo este o seu segundo álbum. Apesar do material a solo não nos convencer tanto quanto os grandes álbuns da banda como Boxer (2007) e High Violet (2010), Matt Berninger tem dois grandes talentos que são inegáveis. Tanto em melodias como em poemas, a mão de Berninger é delicada e é responsável por algumas das canções mais bonitas do rock alternativo deste século. A segunda grande força é a voz, que é inconfundível. Uma voz grave que atinge os pontos mais profundos de qualquer ferida que se julgava fechada. Estas duas armas de Berninger são suficientes para ficarmos curiosos com mais um lançamento em seu nome.
Planning For Burial, It’s Closeness, It’s Easy (The Flenser)
It’s Closeness, It’s Easy é o primeiro álbum em oito anos de Planning For Burial, o projeto DIY a solo de Thom Wasluck. Wasluck constrói um parede de som que se vai modificando ao longo do registo mas que é sempre intensa e impenetrável. Junta a dispersão da música ambient à condensação do shoegaze de My Bloody Valentine e ainda uma forte influência blackgaze. Em It’s Closeness, It’s Easy, os anos pesam e a solidão e a tristeza instalam-se de forma insidiosa, nunca é anunciada e, quando nos apercebemos, já está instalada.
Ty Segall, Possession (Drag City)
Já há muito que se adivinhava a influência dos Beatles e de Bowie no indie rock de Ty Segall, mas em Possession atinge novas proporções. O álbum foi escrito com o realizador de cinema Matt Yoka, um colaborador de longa data. O alinhamento flui com frescura, à medida que sopros e cordas vão aparecendo e desaparecendo. Possession é uma viagem agradável viagem por uma sonoridade ligeiramente diferente para Ty Segall.
yeule, Evangelic Girl Is A Gun (Ninja Tune)
Quando yeule se estreou com Glitch Princess no início de 2022, a pop que apresentava era ultra-futurista. As personagens eram intrigantes e pouco se sabia sobre a pessoa por trás de yeule. A produção era abrasiva e polida ao mesmo tempo, com momentos mais ternos que conviviam com euforia. Desde então, yeule tem-se aventurado por uma sonoridade que se inclina mais sobre o rock mas Evangelic Girl Is A Gun aproxima-se mais de Glitch Princess do que os restantes álbuns. O glitch-pop inovador aliado ao mistério associado a Nat Cmiel tornam difícil tirar os olhos de yeule nestes últimos três anos.