Georgia Harmer (fonte: Powerline Agency)

9 álbuns a ouvir esta semana

Pedro Picoito

A segunda metade do mês de agosto chegou em força. Destacamos grandes álbuns da folk e do rock DIY, mas não só.

Audrey Hobert, Who’s the Clown? (RCA Records)

No mundo atual em que a pop mainstream vai beber avidamente à periferia do género (como o exemplifica o sucesso de artistas como Gracie Abrams, Chappell Roan e Charli xcx no último ano), Audrey Hobert tem tudo para ser a próxima sensação do momento. Tendo começado no guionismo, Hobert escreve e realiza os próprios vídeos, pelo que constrói ela mesma todo o imaginário visual do projeto, para além de, claro, as canções. Who’s the Clown? é o seu álbum de estreia e apresenta-a como um híbrido entre Sky Ferreira (apenas em alguns momentos) e a já mencionada Gracie Abrams. Não será certamente o melhor álbum pop do ano, mas é uma forte promessa.

Cass McCombs, Interior Live Oak (Domino Records)

Depois de vários anos na discográfica Anti-, Cass McCombs regressa à Domino com Interior Live Oak. Como já é habitual, McCombs mistura diversos géneros e influências, como o folk-rock, country e jazz, e integra-os em texturas experimentais com os bordos limados e que fluem sem nos darmos conta dos diferentes elementos que as formam. A poesia das canções fala-nos de reconectar com as raízes, como aliás indica o título do álbum, que faz referência a uma espécie resiliente nativa do Norte da Califórnia.

Georgia Harmer, Eye of the Storm (Arts & Crafts)

Quando “Eye of the Storm” saiu em junho, a canção que dá nome ao segundo álbum de Georgia Harmer, instantaneamente se tornou numa forte aposta para canção do ano. A melodia flutuante, cantada pela suave voz da artista de Toronto, mescla-se com o instrumental simples e orgânico de uma forma livre mas que demonstra um enorme controlo e maestria por parte da compositora. Eye of the Storm é um perfeito álbum de verão e, quem sabe, do ano.

Kerosene Heights, Blame It On The Weather (SideOneDummy Records)

A passagem do furacão Helene pelo estado da Carolina do Norte ofereceu suficiente inspiração e agitação para o segundo álbum dos Kerosene Heights. Blame It On The Weather usa o evento meteorológico como uma metáfora para mudança, cataclismo e turbulência emocional face as grandes transições da vida. A intensidade da banda emo de Asheville é conseguida através de uma potente colaboração entre todas as partes do grupo, contando também uma história de resiliência apesar da adversidade.

Marissa Nadler, New Radiations (Sacred Bones Records / Bella Union)

Há algo de assombrado no gothic-folk de Marissa Nadler, não só pela sonoridade arcana mas em parte também pelo realismo mágico que inspira as letras. É um álbum inquietante, mas que lança sobre nós um feitiço que nos deixa agarrados do princípio ao fim. New Radiations foi produzido pela própria artista. Desta forma, o que nos chega é a visão de Nadler em primeira mão. É um projeto intrigante que, como tudo o que algo de obscuro tem em si, nos prende na procura por mais.

Pile, Sunshine and Balance Beams (Sooper Records)

O nono álbum dos veteranos de Boston toma proporções épicas. Ao habitual post-hardcore, os Pile juntam arranjos orquestrais, sintetizadores e outros elementos eletrónicos, bem como texturas da música ambient. A epopeia sonora adequa-se ao tom sombrio das letras, que abordam dúvidas existenciais e o lado mais negativo do trabalho e criação artística. É um vulcão solene e meditativo, gerando tensão no seu interior mas mostrando também as suas fragilidades por entre os traços mais carregados.

Pool Kids, Easier Said Than Done (Epitaph)

A capacidade de curadoria dos Pool Kids é louvável em Easier Said Than Done. Profundamente informada pelo math-rock, a banda da Flórida desvela um lado pop ao longo do alinhamento, juntamente com várias tendências de outros géneros. No final, tudo funciona e o terceiro registo dos americanos faz jus ao nome do grupo, exibindo uma jovialidade contagiante. É um trabalho que só poderia vir de uma banda bastante segura de si e é espantoso presenciá-lo.

Steve Gunn, Music For Writers (Three Lobed Recordings)

Steve Gunn já há muito que se deixava inspirar pela música ambient nas suas composições, mas em Music For Writers entrega-se por completo ao instrumental, sendo o seu primeiro álbum sem a voz como instrumento. Em vez de uma narrativa, Gunn desenvolve uma arquitetura sonora, priviligiando a construção de atmosferas imersivas que convidam à introspeção demorada envolta nas melodias.

Yawn Mower, I Just Can’t Wait to Die (Mint 400 Records)

O segundo álbum dos Yawn Mower ambiciona, com sucesso, subir um degrau relativamente à estreia de 2022, To Each Their Own Coat. As canções foram criadas tendo em vista salas e recintos maiores e são, por isso, mais barulhentas, mais energéticas e muito mais clamorosas. Ao contrário do primeiro álbum, I Just Can’t Wait to Die envolve todos os elementos da banda numa colaboração poderosa e baseada na mentalidade DIY.

Outros lançamentos da semana:

  • Chance the Rapper, STAR LINE (lançamento independente)
  • KAYTRANADA, AIN’T NO DAMN WAY! (RCA Records)
  • Torus + Danny L Harle, Starlight Divergence (XL Recordings)