Nathan Fielder está de volta com a segunda temporada de The Rehearsal, e, aquilo que parece uma série sobre os outros é, na verdade, uma série sobre ele próprio. Se na primeira temporada tudo girava à volta de pessoas comuns a ensaiar momentos complicados das suas vidas, agora o foco é… pilotos de avião. Mas calma: não é bem o que parece.
A proposta inicial é simples e até faz sentido — criar ensaios rigorosos para ajudar pilotos a comunicar melhor uns com os outros e, com isso, evitar acidentes. Mas aos poucos percebemos que Fielder está a fazer mais do que observar ou orientar: ele está a aprender a pilotar. Literalmente. O grande twist da temporada é que, sem dizer nada a ninguém, Nathan andou este tempo todo a tirar a licença de piloto comercial. A ideia não é tanto melhorar a aviação, mas sim resolver os seus próprios bloqueios — e talvez provar a si mesmo que não tem “nada de errado”.
Este impulso vem, em parte, da forma como o público interpretou a sua personagem na primeira temporada, com muitos fãs a sugerirem que Nathan poderia estar no espectro do autismo. Em vez de fugir ao tema, ele enfrenta-o de frente — com direito a testes, ressonâncias magnéticas e tudo. E aqui a série muda de tom: o que parecia ser só mais uma sátira absurda transforma-se numa reflexão pessoal sobre identidade, funcionalidade e a pressão para “ser normal”.
Claro que, sendo Nathan Fielder, tudo isto é feito com uma boa dose de absurdo. Há marionetas gigantes, concursos de canto, planos megalómanos e ideias de legalidade duvidosa — como co-pilotar voos reais desde que os passageiros não paguem. A meio caminho entre reality show e performance artística, a série nunca nos deixa esquecer que estamos num universo onde a realidade está sempre a ser encenada.
O episódio final é o culminar de tudo isto: Nathan, com ar sério, a pilotar um avião de verdade, com uma plateia de figurantes a aplaudir a aterragem. E, no fim, ele diz: “Só deixam os melhores pilotar aviões assim. Se estou aqui, então devo estar bem.” Porque no fundo, The Rehearsal continua a ser sobre alguém que tenta desesperadamente encontrar um lugar no mundo — mesmo que para isso tenha de fingir que sabe o que está a fazer.
É uma temporada menos imediata do que a primeira, menos coesa talvez, mas mais ambiciosa. E se não responde a tudo, pelo menos deixa claro que, para Nathan Fielder, a única forma de viver é ensaiar até à exaustão.