2023: Os 30 melhores álbuns internacionais do ano.

Estes são os 30 melhores álbuns internacionais do ano para a MenteCultural.

O ano de 2023 está a chegar ao fim e já olhamos para 2024 com aquele sentimento de mudança e de novas inspirações. Este sentimento é igual em todos os finais do ano e é sempre bom conjugá-lo com a retrospetiva do que de melhor aconteceu. Os Tops são sempre subjetivos mas divertidos e excelentes para corroborar a ideia de que gostos, discutem-se. Sabendo que no futuro vamos olhar para esta lista de outra maneira e que se refeita, seria diferente, fica aqui o testemunho dum momento presente.

30. Julie Byrne – The Greater Wings

Este é um disco de luto e também de gratidão em que Julie Byrne pega naquilo que mais nínguem vê, como uma mancha de sangue num papel ou numa música que passa através duma parede, e transforma em algo cósmico que altera a definição de tempo. Byrne descende de anos da folk de Nick Drake, Vashti Bunyan ou Cat Power e apresenta um disco que floresce para sistemas meteorológicos de emoções.

29. Slowdive – everything is alive

O segundo disco dos Slowdive desde que se reuniram após se terem separado, é uma brilhante evolução que os vê incorporar electrónica, post-punk e até mesmo melodias mais pop no seu habitual som shoegaze.

28. Feist – Multitudes

O sexto álbum de originais da canadiana Leslie Feist foi composto após o nascimento da filha adoptiva da cantora e a morte do seu pai, em 2019. Foi um período conturbado e confrontador mas Feist concentrou-se maioritariamente em canções que nasceram como canções de embalar para a sua pequena filha. Um registo íntimo, suave e com poderes curativos.

27. Wilco – Cousin

Os Wilco sempre quiseram ter tudo sob controle. Têm o seu próprio estúdio de gravação, gerem a sua editora, controlam a sua bilhética e falam diretamente com os seus fãs. E, obviamente, tratam da produção dos seus discos. Mas em Cousin, os Wilco decidiram convidar Cate Le Bon a produzir o disco e a juntar-se a eles, nas teclas e isso é algo que elogia todas as partes envolvidas. Como qualquer grande disco, Cousin não apresenta fórmulas imediatas mas com a devida dedicação vamos percebendo o quão extraordinário conseguem ser e como respondem bem quando são bem orientados.

26. Black Grape – Orange Head

Os Black Grape, projecto paralelo de Shaun Ryder dos Happy Mondays, voltaram a lançar um disco que traz de volta o melhor que podemos esperar do revival das melodias dos anos 90. Este é um álbum abrasivo, e que Ryder sempre apontou, mostrando e afirmando em como está vivo e bem de saúde. E por isso se celebra com confiança, ritmos Ska, e com uma energia de apelo constante à qual é quase impossível ficar indiferente.

25. PJ Harvey – I Inside the Old Year Dying

Em I Inside the Old Year Dying, PJ Harvey excede a sua capacidade inata e mística de escrever canções que contam histórias dum mundo dela própria. Já não são os testemunhos dos tempos conturbados do mundo como em Let England Shake ou The Hope Six Demolition Project mas uma incursão mais profunda na sua própria arte. Embora as suas sombras não revelem tudo, são uma viagem fascinante.

24. The Goa Express – The Goa Express

Numa era, ou década, em que o singer-songwriter é o verdadeiro protagonista, apenas as bandas com créditos firmados de décadas anteriores é que sobressaem. São raros os exemplos de bandas recentes que trazem o bom do rock de garagem, o alternativo, o rock cru que a geração passada deixou arrefecer. Os Goa Express não têm a agressividade dos Idles ou dos Shame mas partilham a mesma origem de quem quer fazer música para os outros. Esta indie pop, um pouco esquecida, favorece aqueles que querem fazer uma revolução mas que também sabem que a vida se perde se não formos passar umas semanas de férias com os amigos.

23. Buck Meek – Haunted Mountain

Buck Meek é o guitarrista dos Big Thief e tal como a sua companheira na banda, Adrianne Lenker, também aproveita os entretantos da banda para trabalhar nas suas canções a solo. Não são interpretadas a solo pois Buck Meek junta uma boa mão cheia de colaboradores mas são as suas interpretações da vida, poéticas e charmosas e de uma sinceridade desarmante.

22. Devendra Banhart – Flying Wig

A carreira de Devendra Banhart tem-se caracterizado por uma constante evolução e transmutação da sua música para algo mais refinado e maduro. Em Flying Wig vemos Banhart bem distante daquele que gravava canções folk místicas em máquinas de gravação de chamadas. Aqui vemos o artista em busca de outro tipo de misticismo, sendo outras paisagens banhadas de uma synth-pop de tensão cinematográfica mais assentes no resultado final. Flying Wig é uma estranha e extremamente agradável viagem e de uma conexão profunda.

21. bar italia – The Twits

Os londrinos bar italia lançaram dois discos no ano de 2023. The Twits é o segundo e prova que eles conseguem divagar em várias dimensões. Este segundo álbum, o quarto de originais, reflete o crescimento da banda e da sua crescente e singular expressividade. São melodias absorventes cujas influências vão desde os My Bloody Valentine aos The Cure.

20. Iggy Pop – Every Loser

Aos 75 anos, Iggy Pop decidiu fazer mais um disco e dar uma nova lição do que é um álbum de rock ‘n’ roll. Ao mesmo tempo musculado e delicado, o álbum pode deixar cicatrizes e gerar emoções que ficam presas em nós. Pop fala de várias coisas, como do prazer e do terror de viver em Miami ou de opiniões contra a cultura do século 21 mas também do simples prazer e ainda estar vivo. O veterano do punk abraça os seus sentimentos e a sua honestidade e não quer saber se é julgado por isso.

19. Arooj Aftab, Vijay Iyer, & Shahzad Ismaily – Love in Exile

Love in Exile junta três elementos de puro talento numa jornada emocionalmente honesta onde o ego se dissolve e dá lugar à emancipação grupal. São seis faixas gravadas com pouca ou quase nenhuma edição, sem rede, e que se desenvolve em meditações imersivas, poéticas e espirituais.

18. Sufjan Stevens – Javelin

Javelin foi chamado de real sucessor de Carrie & Lowell. É um álbum que traz de volta aquele Sufjan Stevens íntimo, meio-depressivo e belo. A verdade é que Stevens não tem tido uma vida de sorte. Viu o seu companheiro morrer e viu também ser-lhe diagnosticada uma doença que o colocou (ao que parece e esperamos, temporariamente) imóvel, numa cadeira-de-rodas. E carrega isso tudo nas suas canções emotivas como já o tinha feito em Carrie & Lowell. Sem ser explicitamente auto-biográfico, Sufjan despeja-nos em cima uma biografia coletiva que não nos deixa indiferentes.

17. King Krule – Space Heavy

O quinto álbum de originais de Archy Marshall e o quarto sob o nome de King Krule foi gravado em Londres e Liverpool. Escrito quase na totalidade por Marshall, o disco contou com a ajuda do produtor Dilip Harris e da sua banda de suporte. É um disco sobre sonhos, perda e sobre a brutal honestidade do universo.

16. boygenius – the record

Este é o álbum de estreia do supergrupo de supermulheres que junta Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. Os três primeiros singles do disco tiveram direito a vídeos, todos eles realizados por Kristen Stewart e deram lugar a um pequeno filme promocional intitulado The Film.

15. The Hives – The Death of Randy Fitzsimmons

Onze anos depois do disco anterior, os suecos The Hives trouxeram de volta o seu rock implacável. É mais uma lição de como o rock pode ser simples, frenético e divertido. A banda continua sem vontade de envelhecer e de levar a vida demasiado a sério, algo que é absolutamente necessário nos dias de hoje.

14. Mitski – The Land Is Inhospitable and So Are We

The Land Is Inhospitable and So Are We é já o sétimo disco de originais de Mitski, a tímida norte-americana de ascêndencia japonesa. Aqui Mitski observa o que está para além da felicidade e pergunta o que se lhe segue. A compositora refinou a sua aptidão poética e avassaladora despejando um disco hipnótico.

13. Greg Mendez – Greg Mendez

O praticamente desconhecido Greg Mendez lançou este ano este álbum homónimo que somatiza tudo aquilo que transborda da expressão “cantautor íntimo”. Mendez é de Filadélfia e anda há mais de 15 anos numa cavalgada discreta à volta do DIY (do it yourself/faz tu próprio). Os nomes curtos das canções como “Maria”, “Friend” ou “Sweetie” sugerem que os sujeitos estão ali, sentados, no mesmo espaço que Mendez e vai-se percebendo a resiliência do músico depois de ter passado por maus-bocados.

12. Metallica – 72 Seasons

Os Metallica sempre se pautaram pelo profissionalismo e pela máxima “se é para fazer, que seja bem feito”. E não deixam para mãos alheias o que só eles conseguem fazer. É certo que para quem apenas “gosta” de Metallica, o álbum pode se tornar exaustivo já que apenas duas músicas têm menos de 5 minutos e no total excede uma hora. Mas percebe-se o quão confortável a banda está com ela própria e o thrash nunca foi tão cristalino.

11. Shame – Food For Worms

Os Shame não têm medo de abanar as coisas. Depois de uma estreia post-punk com Songs of Praise e um sucessor com toques de dance-punk em Drunk Tank Pink, a banda continua a evoluir para outros terrenos com este Food For Worms. O álbum é um entusiasmente testamento à bravura criativa. Os Shame abraçam confiantemente as suas falhas transformando o bonito caos dos seus concertos num cativante exemplo de vulnerabilidade.

10. Sparks – The Girl Is Crying In Her Latte

Os Sparks iniciaram a sua carreira no anos 60 e 60 anos depois continuam aí, a fazer o que só eles conseguiriam fazer. Os irmãos Ron e Russel Mael, com 78 e 75 anos respetivamente, ganharam uma nova legião de fãs mais recentemente com um disco a meias com os Franz Ferdinand e com a magia das plataformas musicais. Mas não estavam dependentes disso para voltarem à ribalta pois bastou-lhes recorrer ao seu talento. The Girl Is Crying In Her Latte é um disco clássico-Sparks e que nos agarra de forma vibrante com uma anacrónica mistura de sons, expressões e referências à cultura pop.

09. Wednesday – Rat Saw God

Apesar de ser o quinto álbum de originais deste quarteto, Rat Saw God parece quase como um começo. As canções de Karly Hartzman refletem os anos turbolentos da adolescência e as canções atingem uma transcêncdencia shoegaze quase celestial. Daquele género catártico que nos deixa exaustos mas de uma maneira boa.

08. Bakar – Halo

Bakar tem a aparência de um rapper e uma voz e um estilo parecido com Kele Okereke (dos Bloc Party). Editou este ano o seu segundo disco de estúdio e arrisca-se, por este caminho, a ser daquelas pérolas que passam ao lado do mainstream. Halo é um disco introspetivo embora com a energia certa nos sítios certos. Bakar aperfeiçou-uma indomável beleza na mistura de rap, pop, R&B e sintetizadores electrónicos.

07. V.A. – Moping In Style (A Tribute to Adam Green)

Adam Green faz parte daquela geração que tomou Nova Iorque de assalto no início dos anos 2000 e encheu a cidade com uma nova esperança criativa. Começou fazendo parte dos Moldy Peaches, com Kimya Dawson e depois, mais tarde, abraçou uma carreira a solo. Ainda a meio da vida, Green ganhou tal respeito que aos 42 anos recebe este duplo álbum tributo com Regina Spektor, Devendra Banhart, The Libertines, The Lemonheads, Rodrigo Amarante, Kyp Malone e tantos outros a interpretarem as suas canções.

06. Ana Frango Eléctrico – Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua

Ana Faria Fainguelernt é um caso sério na música brasileira. É também um caso sério da geração Z, essa geração que apesar de ter um dos futuros mais imprevisíveis e sombrios insiste em combater, sobreviver e não baixar os braços. Lançou este Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua, o seu terceiro longa-duração, com inspirações de vários lados: a soul, os anos 80, o punk ou o jazz de improviso. O resultado é magnífico, um pouco doido e estranhamente viciante.

05. The Rolling Stones – Hackney Diamonds

O 24º ou 26º (depende da contagem ser Britânica ou Americana) álbum dos Rolling Stones é o primeiro de originais desde 2005. Apresenta colaborações com Elton John, Paul McCartney, Lady Gaga e Stevie Wonder mas mostra-nos sobretudo como uma das melhores bandas de sempre continua a ser… uma das melhores bandas de sempre. Hackney Diamonds é a prova de uma marca que só eles sabem fazer e faz-nos pensar que, se é assim tão simples, porque é que não fazem um álbum todos os anos? E este vídeo de “Angry” é apenas um dos melhores de sempre também.

04. Yves Tumor – Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds)

Adjetivado de músico experimental, Yves Tumor tem ganho interesse, importância e relevância álbum após album. Este é o seu quinto e incorpora electrónica, indie rock, psicadélia e dance. Parece um pouco estranho mas Yves Tumor faz isto com talento de sobra e com indiferença do que os outros pensam. É música rock em contra-corrente, taxativa e disruptiva.

03. André 3000 – New Blue Moon

Outra das surpresas totais do ano é o álbum de estreia de André 3000. Ficou conhecido como membro dos Outkast, com quem partilhou o enorme sucesso de seis discos com Big Boi. Depois de lançarem o último em 2006, os Outkast separaram-se e trilharam caminhos diferentes. André 3000 andou anos a colaborador em vários projectos e no meio disso dedicou-se a desenvolver o seu talento na flauta. Reconhecido como rapper, André fez um disco que em nada tem a ver e quis enfatizar isso, com ironia também. Este é um disco instrumental, contemplativo e explícitamente belo.

02. Bombay Bicycle Club – My Big Day

Um dos critérios mais importantes para classificar um álbum neste tipo de listas é naturalmente a qualidade musical e a emoção que nos desperta. Outro critério é a surpresa que nos oferece. My Big Day é o sexto disco dos Bombay Bicycle Club e não previa nada de extraordinário. Mas quando ouvimos “Just A Little More Time” percebemos que não percebemos nada e que, se tivermos tempo, devemos dar uma oportunidade à surpresa. Forte, eclético e com um sentido de aventura impaciente.

01. Blur – The Ballad of Darren

O mais recente disco dos Blur chegou oito anos depois do seu antecessor e mais uma vez com grande expetativa. Apesar de ser apenas o nono disco da banda em mais de 30 anos de carreira, a verdade é que os Blur precisavam de voltar às raízes e oferecer um álbum que soasse a eles próprios. Não existem álbuns épicos depois de meia-dúzia de audições e não deixa de ser audaz afirmar isso passados apenas alguns meses mas este trabalho da banda é, no seu conjunto, um dos melhores que já fizeram e daqui a 20 anos vai soar ainda melhor.

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